walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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Benjamin tinha uma gran<strong>de</strong> admiração por Kafka, e para muitos ele foi o seu<br />
melhor crítico, ambos possuíam uma visão muito próxima quanto à “idéia <strong>de</strong><br />
progresso” conquistada pela humanida<strong>de</strong>. Ele observa que:<br />
Portanto, ao dizer, como acabo <strong>de</strong> fazê-lo, que as experiências <strong>de</strong><br />
Kafka estavam sob uma violenta tensão <strong>em</strong> relação às místicas, dizse<br />
apenas uma meia verda<strong>de</strong>. O que <strong>em</strong> Kafka é incrível e absurdo,<br />
no sentido mais preciso, é que este mundo <strong>de</strong> experiências mais<br />
recentes tenha lhe sido trazido pela tradição mística. Naturalmente<br />
isto não foi possível s<strong>em</strong> fenômenos <strong>de</strong>vastadores <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa<br />
tradição (nos quais voltarei a falar). Ao que tudo indica, foi preciso<br />
apelar nada menos que para as forças <strong>de</strong>ssa tradição, se é que um<br />
indivíduo (que se chamou Franz Kafka) <strong>de</strong>ve ser confrontado com a<br />
realida<strong>de</strong> que se projeta como sendo a nossa, teoricamente, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, na física mo<strong>de</strong>rna e praticamente na técnica <strong>de</strong> guerra.<br />
Com isso ceptível para o indivíduo e que o mundo <strong>de</strong> Kafka, tão<br />
alegre e povoado <strong>de</strong> anjos, é o compl<strong>em</strong>ento exato para uma época<br />
que se dispõe a aniquilar <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> escala os habitantes <strong>de</strong>ste<br />
planeta. Só é <strong>de</strong> se esperar que as gran<strong>de</strong>s massas façam essa<br />
experiência, que correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong> Kafka como pessoa particular,<br />
inci<strong>de</strong>ntalmente e por ocasião <strong>de</strong>sse aniquilamento. 74<br />
Kafka refletiu com profundida<strong>de</strong> a crise da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>u como<br />
poucos no que se tornou o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um aparelho burocrático e tecnológico.<br />
Ao criticar a incapacida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> se comunicar, faz uma dura crítica<br />
à perda da humanida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>. É isso que nos fala a maioria dos seus<br />
personagens. Tanto ele quanto Benjamin questionaram a crise da tradição, não<br />
somente a crise da tradição oci<strong>de</strong>ntal, mas principalmente a crise do judaísmo.<br />
Mesmo não sendo ju<strong>de</strong>us religiosos, o teológico s<strong>em</strong>pre esteve presente <strong>em</strong> seus<br />
escritos. Eles não aceitavam a atmosfera assimilacionista <strong>de</strong> suas respectivas<br />
famílias. Ao analisarmos a obra do Kafka a partir da filosofia <strong>de</strong> Benjamin <strong>de</strong>sejamos<br />
construir uma ponte entre o estudo sobre a narração e a crise do hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno.<br />
Crise esta primeiramente test<strong>em</strong>unhada e <strong>de</strong>nunciada por Bau<strong>de</strong>laire, crise<br />
esta também vivida e <strong>de</strong>nunciada por Kafka e Benjamin. No caso dos dois últimos a<br />
crise vai além da crítica política e histórica, por possuir um forte caráter teológico.<br />
Este probl<strong>em</strong>a será trabalhado no capítulo seguinte.<br />
74 BENJAMIN, Walter; SCHOLEM, Gershom. Correspondência (1933-1940). Trad.: Neusa<br />
Soliz. São Paulo: Perspectiva, 1993. p. 302-303.<br />
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