walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Nakhman com Franz Kafka po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os realizar o encontro do sagrado com o<br />
profano no pensamento <strong>de</strong> Benjamin. Como observou Enrique Man<strong>de</strong>lbaum:<br />
O narrador, <strong>em</strong> ambos os autores, <strong>de</strong>ixa as personagens atuar<strong>em</strong> e<br />
se manifestar<strong>em</strong> s<strong>em</strong> que <strong>em</strong> nenhum momento se intrometa para<br />
comentá-las ou explicá-las, permitindo s<strong>em</strong>pre que elas sejam, para<br />
nós, apenas através <strong>de</strong> sua peculiar manifestação. Em todos os<br />
textos, narra-se ou comenta-se um simples evento. Porém, <strong>em</strong> Rabi<br />
Nakhman nos é possível, após a leitura do texto, ou seja, a partir da<br />
totalida<strong>de</strong> que é narrada, configurar melhor os traços específicos <strong>de</strong><br />
cada personag<strong>em</strong>. 71<br />
A obra <strong>de</strong> Kafka é uma crítica à incapacida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno se<br />
comunicar. Verificamos isso na sua estrutura narrativa. Quantas vezes nos<br />
<strong>de</strong>paramos com seus textos e observamos que pouco ou nada enten<strong>de</strong>mos, parece<br />
que ele não fala uma língua humana, mas uma língua mágica. Man<strong>de</strong>lbaum<br />
continua: Nesse aspecto que estamos trabalhando, o da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetrarmos<br />
<strong>em</strong> sua complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que as personagens <strong>de</strong> Kafka mostram-se<br />
também impossibilitadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se através <strong>de</strong> nossas leituras. 72<br />
Kafka brinca com seu leitor ao provar a ele que a linguag<strong>em</strong> é soberana sobre<br />
todos nós. Não adianta tentar ler sua obra com a objetivida<strong>de</strong> do mundo mo<strong>de</strong>rno,<br />
pois assim só encontrar<strong>em</strong>os fracasso. Ao nos aproximarmos <strong>de</strong>le <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os antes<br />
<strong>de</strong> tudo saber que na vida tudo leva t<strong>em</strong>po. T<strong>em</strong>po para apren<strong>de</strong>r, t<strong>em</strong>po para<br />
guardar e t<strong>em</strong>po para narrar. Este é um dos segredos <strong>de</strong> Kafka. Man<strong>de</strong>lbaum<br />
conclui:<br />
Kafka é um autor que faz da escrita uma séria experimentação. A<br />
escrita não é apenas um meio para a expressão <strong>de</strong> uma idéia ou<br />
concepção que esteja fora do terreno da escritura. Ainda que o<br />
dominante na operação textual <strong>de</strong>sse autor se dê no campo dos<br />
significados, a ponto do impacto da leitura <strong>de</strong> seus textos <strong>de</strong>spertar<br />
<strong>em</strong> nós principalmente uma pr<strong>em</strong>ência <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o sentido do<br />
que está sendo dito, esse <strong>de</strong>staque outorgado ao conteúdo expresso<br />
t<strong>em</strong>, na forma expressiva particular assumida, a fonte <strong>de</strong> sua<br />
eficácia. Se Kafka é um magistral escritor, é exatamente por esse<br />
motivo. É porque, nele forma e conteúdo imbricam-se <strong>de</strong> tal maneira,<br />
potencializando-se mutuamente num interjogo tão complexo, que<br />
ambos vêm a constituir uma forte unida<strong>de</strong> indissociável. 73<br />
71 MANDELBAUM, Enrique. Franz Kafka: um judaísmo na ponte do impossível. São Paulo:<br />
Perspectiva, 2003. p.110.<br />
72 Ibid. p. 111.<br />
73 Ibid. p. 40.<br />
58