walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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Quando o sofrimento não po<strong>de</strong> mais ser comunicado, a experiência chegou<br />
ao máximo da atrofia. É o que procura dizer a citação, é o que l<strong>em</strong>os no inicio <strong>de</strong> O<br />
Narrador, quando ele <strong>de</strong>screve os soldados que voltavam do campo <strong>de</strong> batalha<br />
mudos, pobres <strong>de</strong> experiências comunicáveis. A tradição judaica expressa que não<br />
existe limite para a interpretação, pois reconhece, incentiva e postula uma<br />
interpretação infinita. Essa é a proposta <strong>de</strong> Benjamin no estudo sobre a narração e<br />
na sua análise da história. S<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória não po<strong>de</strong> existe relação com o passado,<br />
n<strong>em</strong> com as vitimas das injustiças, n<strong>em</strong> mesmo com a dor alheia. Benjamin observa:<br />
A inquietação <strong>de</strong> nossa vida interior não t<strong>em</strong>, por natureza, este<br />
caráter irr<strong>em</strong>ediavelmente privado. Ela só o adquire <strong>de</strong>pois que se<br />
reduziram as chances dos fatos exteriores se integrar<strong>em</strong> à nossa<br />
experiência. Os jornais constitu<strong>em</strong> um dos muitos indícios <strong>de</strong> tal<br />
redução. Se fosse intenção da imprensa fazer com que o leitor<br />
incorporasse à própria experiência as informações que lhe fornece,<br />
não alcançaria seu objetivo. Seu propósito, no entanto, é o oposto, e<br />
ela o atinge. Consiste <strong>em</strong> isolar os acontecimentos do âmbito on<strong>de</strong><br />
pu<strong>de</strong>sse afetar a experiência do leitor. 68<br />
Benjamin precisava encontrar uma figura heróica para lutar contra as<br />
transformações; primeiramente buscou o flâneur, mas ao constatar que este não<br />
possuía os atributos teológicos necessários recorre ao narrador, que representa a<br />
figura do justo. O Rabi Nakhman <strong>de</strong> Bratslav (1772-1810) foi um dos expoentes do<br />
movimento pietista fundado por Baal Sch<strong>em</strong> Tov (O Mestre do bom Nome).<br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua contribuição no âmbito das idéias religiosas do judaísmo, ele<br />
contribuiu <strong>de</strong> forma significativa para a literatura judaica. Partindo dos escritos<br />
bíblicos e hermenêuticos do judaísmo se tornou um dos gran<strong>de</strong>s narradores do<br />
imaginário ficcional e místico. Seus relatos eram transmitidos oralmente e <strong>de</strong>pois<br />
transcritos por m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> seu círculo <strong>de</strong> seguidores, esse precioso material foi <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> importância para autores do século XX, <strong>em</strong> particular Franz Kafka.<br />
Nakhman compreen<strong>de</strong>u o po<strong>de</strong>r da palavra para a formação do sujeito <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> uma tradição. Para ele, a comunicação não significava um acontecimento comum<br />
sobre o qual não se <strong>de</strong>veria refletir já que nos é familiar e b<strong>em</strong> conhecida, pelo<br />
contrário, era rara e maravilhosa, como algo recém-criado. Aproxima-se muito da<br />
idéia do Benjamin <strong>de</strong> tomar a narração oral como uma forma <strong>de</strong> intercambiar<br />
experiências.<br />
68 Op. cit. p. 106.<br />
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