walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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omance, é <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> à qual a socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />
parece ignorar. Ao menos pela m<strong>em</strong>ória, o hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>ve manter viva a<br />
narração antiga, para não per<strong>de</strong>r uma parte insubstituível da experiência. Como<br />
observou Lowy:<br />
A experiência perdida buscada por Benjamin e cuja r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração ele<br />
encontra <strong>em</strong> Bau<strong>de</strong>laire é, portanto, a <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> s<strong>em</strong><br />
classes, vivendo num estado <strong>de</strong> harmonia edênica com a natureza –<br />
experiência <strong>de</strong>saparecida na civilização mo<strong>de</strong>rna, industrial<br />
capitalista, e cuja herança <strong>de</strong>ve ser salva pela utopia socialista.<br />
Contudo a r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração enquanto tal é impotente para transformar o<br />
mundo: um dos gran<strong>de</strong>s méritos <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire aos olhos <strong>de</strong><br />
Benjamin é precisamente o reconhecimento <strong>de</strong>sesperado <strong>de</strong>ssa<br />
impotência. 64<br />
Assim como Bau<strong>de</strong>laire, Benjamin tinha consciência que a m<strong>em</strong>ória não seria<br />
suficiente para a transformação do mundo, por outro lado, sabia que s<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória<br />
não haveria responsabilida<strong>de</strong> histórica. Em O Narrador ele propõe que a partir da<br />
narração oral a m<strong>em</strong>ória seja exercitada, a tradição preservada e os valores<br />
humanos <strong>de</strong>fendidos contra um “progresso” <strong>de</strong>sumano e voraz:<br />
A crítica das doutrinas do progresso ocupa um lugar importante no<br />
ensaio “O narrador” (1936), on<strong>de</strong> Léskov é saudado (através <strong>de</strong> uma<br />
citação <strong>de</strong> Tolstoi) como o primeiro escritor “que <strong>de</strong>nunciou os<br />
inconvenientes do progresso econômico, e como um dos últimos<br />
narradores que permaneceram fiéis à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro <strong>em</strong> que os<br />
homens viviam <strong>em</strong> harmonia com a natureza”. 65<br />
Observo na citação que os valores éticos predominam na análise histórica <strong>de</strong><br />
Benjamin. A relação do hom<strong>em</strong> com a natureza que ele aponta se refere à<br />
experiência do É<strong>de</strong>n, aquela experiência que causou não apenas uma alienação <strong>em</strong><br />
relação à linguag<strong>em</strong> (linguag<strong>em</strong> adâmica), mas também uma alienação <strong>em</strong> relação à<br />
natureza. Em comum na maioria <strong>de</strong> seus textos está a “experiência mística da<br />
linguag<strong>em</strong>”, essa marca do seu pensamento converge numa análise alegórica muito<br />
particular. Jeanne Marie escreve:<br />
64 LOWY, Michel. Re<strong>de</strong>nção e utopia: o judaísmo libertário na Europa Central. Trad.: Paulo<br />
Neves. São Paulo: Companhia das letras, 1989. p.105.<br />
65 Ibid., p.97.<br />
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