walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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Qu<strong>em</strong> é autenticamente fiel é chamado Tzadik, hom<strong>em</strong> que pratica<br />
tze<strong>de</strong>k, a supr<strong>em</strong>a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> Deus e dos homens,<br />
unindo, <strong>em</strong> proporções perfeitas, a justiça com o amor. E quando o<br />
equilíbrio entre justiça e amor é perturbado, tze<strong>de</strong>k não é mais<br />
realizável. Se a justiça enfraquecer, predominam a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, a<br />
anarquia e a corrupção, e s<strong>em</strong>pre que o amor permanece<br />
sub<strong>de</strong>senvolvido, o formalismo <strong>de</strong>sumano, a burocracia e o frio<br />
calculismo acabam com o humanismo na socieda<strong>de</strong> como no<br />
indivíduo. 60<br />
A experiência da justiça <strong>de</strong>ve passar pela linguag<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> uma<br />
experiência dialógica. Não po<strong>de</strong>mos ser justos s<strong>em</strong> nos aproximarmos do outro pela<br />
palavra. A força da experiência narrativa encontra-se no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> aproximação da<br />
palavra. Como observou Emmanuel Levinas:<br />
A função original da palavra não consiste <strong>em</strong> nomear um objeto a fim<br />
<strong>de</strong> comunicar-se com o outro, num jogo inconseqüente, mas sim <strong>em</strong><br />
assumir por alguém uma responsabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação a outro<br />
alguém. Falar é comprometer-se com os interesses dos homens. A<br />
responsabilida<strong>de</strong> configuraria a essência da linguag<strong>em</strong>. 61<br />
A responsabilida<strong>de</strong> encontra-se na essência da palavra segundo Levinas, e<br />
<strong>de</strong> certa forma se aproxima muito do que pensava Benjamin quando diz:<br />
Assim <strong>de</strong>finido, o narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele<br />
sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provérbio, mas<br />
para muitos casos, como o sábio. Pois po<strong>de</strong> recorrer ao acervo <strong>de</strong><br />
toda uma vida (uma vida que não inclui apenas a própria experiência,<br />
mas <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte a experiência alheia. O narrador assimila à sua<br />
substância mais íntima aquilo que sabe por ouvir dizer). Seu dom é<br />
po<strong>de</strong>r contar sua vida; sua dignida<strong>de</strong> é contá-la inteira. O narrador é<br />
o hom<strong>em</strong> que po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar a luz tênue <strong>de</strong> sua narração consumir<br />
completamente a mecha <strong>de</strong> sua vida. Daí a atmosfera incomparável<br />
que circunda o narrador, <strong>em</strong> Leskov como <strong>em</strong> Hauff, <strong>em</strong> Poe como<br />
<strong>em</strong> Stenvenson. O narrador é a figura na qual o justo se encontra<br />
consigo mesmo. 62<br />
No intercambiar da experiência ocorre à aproximação pelo po<strong>de</strong>r da palavra.<br />
O narrador não faz apenas uso das suas experiências, mas também das<br />
experiências alheias pelo ouvir. Isso quer dizer que ele está aberto ao outro <strong>de</strong> uma<br />
forma viva e eficaz pelo diálogo. Se compreen<strong>de</strong>rmos o que Levinas fala da<br />
60 Ibid. p. 17.<br />
61 LEVINAS, Emmanuel. Quatro leituras talmúdicas. Trad.: Fábio Landa e Eva Landa. São<br />
Paulo: Perspectiva, 2003. p. 45.<br />
62 Op.cit. p. 221.<br />
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