walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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Para a maioria dos físicos o fluxo do t<strong>em</strong>po é irreal, mas o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> si<br />
mesmo é tão real quanto o espaço. Na verda<strong>de</strong> não observamos a passag<strong>em</strong> do<br />
t<strong>em</strong>po. O que observamos <strong>de</strong> fato é que estados mais recentes do mundo difer<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> estados anteriores dos quais ainda nos l<strong>em</strong>bramos. A m<strong>em</strong>ória é fundamental<br />
para a compreensão do t<strong>em</strong>po. Para o hom<strong>em</strong>, o t<strong>em</strong>po costuma significar uma<br />
dimensão constante, contínua e uniforme, uma extensão <strong>de</strong>finida, <strong>de</strong>ntro da qual se<br />
<strong>de</strong>senrolam os acontecimentos. Para essa experiência o t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
algo aconteça nele ou não. É uma dimensão preenchida ou vazia como o espaço. Já<br />
o t<strong>em</strong>po vivenciado pelo hom<strong>em</strong> bíblico não po<strong>de</strong> ser separado do que nele<br />
acontece. É um t<strong>em</strong>po qualitativo:<br />
A conscientização do hom<strong>em</strong> da sua liberda<strong>de</strong>, das suas<br />
responsabilida<strong>de</strong>s frente às “aberturas” do t<strong>em</strong>po, necessariamente<br />
passageiras, leva a uma retomada do passado (zikaron –<br />
recordação) <strong>em</strong> que reaparec<strong>em</strong> todas as ocasiões perdidas, as<br />
ineficiências e os fracassos Iom Hazikaron, o nome dado a Rosch<br />
há-Schaná na Bíblia, test<strong>em</strong>unha a importância atribuída à<br />
recordação crítica pela tradição judaica, fundamento da sua<br />
consciência histórica. 58<br />
A responsabilida<strong>de</strong> histórica é parte do pensamento ético <strong>de</strong> Benjamin e<br />
surge do valor da recordação crítica presente no judaísmo. A partir <strong>de</strong>sta recordação<br />
o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> consciência da sua responsabilida<strong>de</strong> diante das aberturas do t<strong>em</strong>po.<br />
Ao olhar para o passado, o hom<strong>em</strong> vê as ocasiões perdidas, o que po<strong>de</strong>ria ter sido<br />
feito e não foi. Desta forma, a recordação é um chamado à responsabilida<strong>de</strong><br />
histórica, não como uma projeção, mas como recordação que se torna reflexão no<br />
presente. Rehfeld fala do valor da recordação e o advento do messias, t<strong>em</strong>as que<br />
encontramos nos textos <strong>de</strong> Benjamin: No pensamento judaico, a conscientização<br />
histórica exige ainda uma outra dimensão: A do futuro que possui a sua própria<br />
<strong>de</strong>marcação, a re<strong>de</strong>nção final numa era messiânica (malkhut schamayim – reino dos<br />
céus). 59<br />
No final do ensaio sobre a narração, Benjamin nos fala do justo ao dizer: o<br />
narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo. Mas qu<strong>em</strong> seria este<br />
justo que carrega <strong>em</strong> si a arte <strong>de</strong> narrar? Eu <strong>de</strong>fendo que este justo é o Tzadik<br />
58 REHFELD, Walter Israel. Nas sendas do judaísmo. São Paulo: Perspectiva, 2003. p.<br />
200.<br />
59 Ibid. p. 200-201.<br />
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