walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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t<strong>em</strong>po que a sustém e que permite pensar o <strong>de</strong>vir histórico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ação<br />
humana:<br />
A teoria e, mais ainda, a prática da social-<strong>de</strong>mocracia foram<br />
<strong>de</strong>terminadas por um conceito dogmático <strong>de</strong> progresso s<strong>em</strong> qualquer<br />
vínculo com a realida<strong>de</strong>. Segundo os social-<strong>de</strong>mocratas, o progresso<br />
era, <strong>em</strong> primeiro lugar, um progresso da humanida<strong>de</strong> <strong>em</strong> si, e não<br />
das suas capacida<strong>de</strong>s e conhecimentos. Em segundo lugar, era um<br />
processo s<strong>em</strong> limites, idéia correspon<strong>de</strong>nte à da perfectibilida<strong>de</strong><br />
infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, era um processo<br />
essencialmente automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória<br />
<strong>em</strong> flecha ou <strong>em</strong> espiral. Cada um <strong>de</strong>sses atributos é controvertido e<br />
po<strong>de</strong>ria ser criticado. Mas, para ser rigorosa, a crítica precisa ir além<br />
<strong>de</strong>les e concentrar-se no que lhe é comum. A idéia <strong>de</strong> um progresso<br />
da humanida<strong>de</strong> na história é inseparável da idéia <strong>de</strong> sua marcha no<br />
interior <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po homogêneo. A crítica da idéia do progresso t<strong>em</strong><br />
como pressuposto a crítica da idéia <strong>de</strong>ssa marcha. 53<br />
Para ele, a idéia <strong>de</strong> marcha não correspon<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong>, já que a história dá<br />
seus saltos <strong>de</strong> forma dialética. A idéia <strong>de</strong> Jetztzeit representa o presente como<br />
momento <strong>de</strong> revelação, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po on<strong>de</strong> os estilhaços <strong>de</strong> uma<br />
presença messiânica estão presentes. Esse instante que interrompe o contínuo da<br />
história é visivelmente inspirado <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as da mística judaica. No livro T<strong>em</strong>po e<br />
Religião, Walter I. Rehfeld fala do ritmo do t<strong>em</strong>po que muito se aproxima da<br />
concepção <strong>de</strong> Benjamin, já que ambos buscaram suas idéias <strong>em</strong> uma fonte comum:<br />
a tradição judaica. Rehfeld explica que não é <strong>de</strong> admirar que qualquer perturbação<br />
do ritmo t<strong>em</strong>poral seja tomada muita a sério pelo hom<strong>em</strong> bíblico. Para estes, era<br />
uma perturbação da or<strong>de</strong>m social e religiosa, e assim constituía uma ameaça para<br />
todas as organizações sociais, religiosas e política:<br />
Somando o que foi dito, encontramos na Bíblia uma noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po<br />
que contradiz frontalmente a concepção otimista <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po linear<br />
histórico e progressivo, <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po escatológico, concebido pelos<br />
profetas que, instaurado por Deus, terminará nos dias do Messias,<br />
com a felicida<strong>de</strong> universal <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>. O que t<strong>em</strong>os<br />
encontrado neste capítulo é um t<strong>em</strong>po como se reflete nos textos do<br />
“Documentos ‘S’”, <strong>em</strong> Gên 8,22 no livro <strong>de</strong> Jô, no Eclesiastes e <strong>em</strong><br />
vários salmos, principalmente no salmo 90, um t<strong>em</strong>po cujo futuro não<br />
conterá nada mais que o prolongamento do presente, cuja<br />
continuida<strong>de</strong> rítmica é inesgotável, um t<strong>em</strong>po pessimista <strong>em</strong> que<br />
tudo permanece inalterado, <strong>em</strong> que não há evolução, melhoria ou<br />
progresso <strong>em</strong> direção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> humana mais justa. 54<br />
53 BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Obras Escolhidas I: magia e técnica,<br />
arte e política. 10. ed. Trad.: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense. 1996, p.229.<br />
54 REHFELD, Walter Israel. T<strong>em</strong>po e religião. São Paulo: Perspectiva, 1988. p. 54.<br />
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