walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
urbana e industrial, não conhece mais a experiência autêntica “Erfahrung”, que se<br />
baseia na m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> uma tradição cultural e histórica.<br />
Este novo hom<strong>em</strong> que surge na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> conhece apenas a vivência<br />
“Erlebnis” e nela se aliena. É <strong>de</strong>sta mudança que surge a vivência do choque<br />
“Chockerlebnis”, vivência essa que enfraquece a m<strong>em</strong>ória do hom<strong>em</strong> na<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Para Benjamin o choque é parte integrante da vida mo<strong>de</strong>rna. Nela a<br />
experiência não se submete a uma or<strong>de</strong>m contínua, mas passa a fazer parte <strong>de</strong> uma<br />
estrutura on<strong>de</strong> predomina inúmeras interrupções que constitui a vida cotidiana<br />
mo<strong>de</strong>rna.<br />
No tocante a idéia <strong>de</strong> “Chockerlebnis”, Benjamin recorre outra vez à obra <strong>de</strong><br />
Bau<strong>de</strong>laire ao levantar a seguinte questão: como a poesia lírica po<strong>de</strong>ria estar<br />
fundamentada <strong>em</strong> uma experiência, para a qual o choque se tornou norma? Para<br />
ele, uma poesia <strong>de</strong>ste nível <strong>de</strong>veria partir <strong>de</strong> um alto grau <strong>de</strong> conscientização,<br />
evocando a idéia <strong>de</strong> um plano atuante <strong>em</strong> sua composição. Em sua obra, Bau<strong>de</strong>laire<br />
confronta a história e o presente, e esse confronto compõe sua idéia <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A vivência <strong>de</strong> choque, “Chockerlebnis”, é uma experiência <strong>de</strong><br />
fragmentação. No ensaio Sobre Alguns T<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Bau<strong>de</strong>laire, Benjamin <strong>de</strong>senvolve<br />
a teoria freudiana sobre a correlação entre m<strong>em</strong>ória e consciência, na perspectiva<br />
<strong>de</strong> uma crítica da cultura. Segundo Rouanet:<br />
O sist<strong>em</strong>a percepção-consciência recorda Benjamin, t<strong>em</strong> como<br />
função receber as excitações externas, não guardando traços <strong>de</strong>ssas<br />
energias, e se limita a filtrá-las e transmiti-las aos <strong>de</strong>mais sist<strong>em</strong>as<br />
psíquicos, capazes <strong>de</strong> armazenar os traços mnêmicos<br />
correspon<strong>de</strong>ntes às percepções vindas do mundo exterior. A<br />
m<strong>em</strong>ória e a consciência pertenc<strong>em</strong> a sist<strong>em</strong>as incompatíveis, e uma<br />
excitação não po<strong>de</strong>, no mesmo sist<strong>em</strong>a, tornar-se consciente e<br />
<strong>de</strong>ixar traços mnêmicos, o que significa que quando uma excitação<br />
externa é captada, <strong>de</strong> forma consciente, ela por assim dizer se<br />
evapora no ato mesmo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> consciência, s<strong>em</strong> ser<br />
incorporada à m<strong>em</strong>ória. É o que Freud, ainda segundo Benjamin,<br />
resume na fórmula <strong>de</strong> que “a consciência nasce on<strong>de</strong> acaba o traço<br />
mnêmico”, e na idéia correlata <strong>de</strong> que os restos mnêmicos se<br />
conservam <strong>de</strong> forma mais intensa precisamente quando o processo<br />
que os produziu não aflorou jamais a consciência. 41<br />
O sist<strong>em</strong>a percepção-consciência é incapaz <strong>de</strong> conservar os vestígios das<br />
excitações recebidas, mas t<strong>em</strong> a função básica <strong>de</strong> proteger o aparelho psíquico<br />
41 ROUANET, Sérgio Paulo. Édipo e o anjo: itinerários freudianos <strong>em</strong> Walter Benjamin. Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro: T<strong>em</strong>po Brasileiro, 1981. p. 44.<br />
41