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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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Pobreza. O Narrador retoma a crítica já presente no ensaio Paris do Segundo<br />

Império, só que não faz alusão a Bau<strong>de</strong>laire <strong>em</strong> momento algum, mas coloca <strong>em</strong><br />

seu lugar Leskov. Benjamin <strong>de</strong>sejava pagar uma dívida com a poesia épica. Assim,<br />

po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r a razão porque suas análises estéticas nunca se afastam do<br />

campo teológico:<br />

Aconselhar é menos respon<strong>de</strong>r a uma pergunta que fazer uma<br />

sugestão sobre a continuação <strong>de</strong> uma história que está sendo<br />

narrada. Para obter essa sugestão, é necessário primeiro saber<br />

narrar a história (s<strong>em</strong> contar que um hom<strong>em</strong> só é receptivo a um<br />

conselho na medida <strong>em</strong> que verbaliza a sua situação). O conselho<br />

tecido na substância viva da existência t<strong>em</strong> um nome: sabedoria. A<br />

arte <strong>de</strong> narrar está <strong>de</strong>finhando porque a sabedoria – o lado épico da<br />

verda<strong>de</strong> – está <strong>em</strong> extinção. Porém esse processo v<strong>em</strong> <strong>de</strong> longe.<br />

Nada seria mais tolo que ver nele um “sintoma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência” ou<br />

uma característica “mo<strong>de</strong>rna”. Na realida<strong>de</strong>, esse processo, que<br />

expulsa gradualmente a narrativa da esfera do discurso vivo e ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po dá uma nova beleza ao que está <strong>de</strong>saparecendo, t<strong>em</strong><br />

se <strong>de</strong>senvolvido concomitant<strong>em</strong>ente com toda uma evolução secular<br />

das forças produtivas. 37<br />

Para ele, a função poética guarda a revelação. É interessante observar o<br />

comentário que Gershom Schol<strong>em</strong> expôs no livro Walter Benjamin: a história <strong>de</strong> uma<br />

amiza<strong>de</strong>, sobre o lado teológico do amigo:<br />

Naqueles anos, entre 1915 e 1927, pelo menos, a esfera religiosa<br />

assumiu para Benjamin uma importância central, totalmente livre da<br />

dúvida fundamental. Em seu centro encontrava-se o conceito <strong>de</strong><br />

Lehre, ensinamento, que para ele incluía o campo filosófico, mas o<br />

transcendia <strong>de</strong>finitivamente. Nos seus primeiros escritos, voltava<br />

repetidas vezes a este conceito, que ele interpretava como<br />

“instrução” no sentido original da Torá hebraica, instrução não só<br />

sobre a verda<strong>de</strong>ira condição e caminho do Hom<strong>em</strong> no mundo, mas<br />

também sobre a conexão transcausal das coisas e sua radicação <strong>em</strong><br />

Deus. Isso tinha muito a ver com seu conceito <strong>de</strong> tradição, que<br />

assumia cada vez mais um tom místico. 38<br />

A citação pontua a suspeita <strong>de</strong> Benjamin <strong>em</strong> relação à tradição. Para ele, a<br />

única tradição com valor <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong> era a Torá. Sua idéia <strong>de</strong> Lehre (instrução)<br />

revela o que até então estava implícito no seu pensamento: o valor <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong> é<br />

37 BENJAMIN, Walter. O Narrador. In: Obras Escolhidas I: magia e técnica, arte e política.<br />

10. ed. Trad.: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 200-201.<br />

38 SCHOLEM, Gershom. Walter Benjamin: a história <strong>de</strong> uma amiza<strong>de</strong>. Trad.: Geraldo<br />

Gerson <strong>de</strong> Souza, Natan Norbert Zins e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1989. p. 64-<br />

65.<br />

38

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