walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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As mudanças ocorridas na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> se reflet<strong>em</strong> no surgimento da<br />
imprensa e do romance. Ambos part<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> leitura dinâmica<br />
<strong>de</strong>sconhecida até então, forma esta on<strong>de</strong> predomina a velocida<strong>de</strong>. Estas mudanças<br />
alteram a experiência do hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno. O <strong>de</strong>clínio da experiência está <strong>de</strong> alguma<br />
maneira relacionado à automatização e repetição da vida mo<strong>de</strong>rna. Tanto a<br />
informação, quanto o romance, alcançam o status <strong>de</strong> mercadoria na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>terminando assim todo um novo ritmo <strong>de</strong> produção. No ensaio Sobre alguns<br />
t<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Bau<strong>de</strong>laire, po<strong>de</strong>mos ler:<br />
Há uma rivalida<strong>de</strong> histórica entre as diversas formas da<br />
comunicação. Na substituição da antiga forma narrativa pela<br />
informação pela sensação reflete-se a crescente atrofia da<br />
experiência. Todas essas formas, por sua vez, se distingu<strong>em</strong> da<br />
narração, que é uma das mais antigas formas <strong>de</strong> comunicação. Esta<br />
não t<strong>em</strong> a pretensão <strong>de</strong> transmitir um acontecimento, pura e<br />
simplesmente (como a informação faz); integra-o à vida do narrador,<br />
para passá-lo aos ouvintes como experiência. Nela ficam impressas<br />
as marcas do narrador como vestígios das mãos do oleiro no vaso <strong>de</strong><br />
argila. 29<br />
Ele constata que as transformações urbanas levaram as pessoas a se<br />
adaptar<strong>em</strong> a uma nova experiência caracterizada pela cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>. On<strong>de</strong> as<br />
relações recíprocas dos seres humanos se distingu<strong>em</strong> pela influência da ativida<strong>de</strong><br />
visual sobre a auditiva. Anteriormente, predominava <strong>de</strong> certo modo a ativida<strong>de</strong><br />
auditiva sobre a visual, ambiente i<strong>de</strong>al para a vida do narrador tradicional. A<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação aliada à sua velocida<strong>de</strong> leva à vivência do choque. Este<br />
é um dos t<strong>em</strong>as presentes no estudo sobre a narração. Ao recorrer à obra <strong>de</strong> Nikolai<br />
Leskov, Benjamin encontra nela as características do poeta lírico. Leskov se<br />
interessava pelos camponeses e tinha uma religiosida<strong>de</strong> que perpassava toda sua<br />
obra. Na verda<strong>de</strong>, ele era um hom<strong>em</strong> que, como Benjamin, buscava uma relação<br />
com a natureza, relação essa que <strong>de</strong>saparece na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
A narração oral é fundamental para a formação do sujeito. Ela s<strong>em</strong>pre foi<br />
reconhecida pelo valor da r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração; <strong>de</strong>ssa forma, é através da palavra que o<br />
passado é resgatado do seu esquecimento e do silêncio. Qu<strong>em</strong> não honra seu<br />
passado não t<strong>em</strong> futuro. Essa é a essência da vida consciente. Vida capaz <strong>de</strong><br />
articular t<strong>em</strong>pos e lugares, entre passado e futuro <strong>de</strong> forma convincente, <strong>em</strong> que<br />
receb<strong>em</strong>os a direção e a orientação quanto a nosso lugar no t<strong>em</strong>po. A importância<br />
29 Op.cit. p.107.<br />
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