walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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09.05.2013 Views

até então estava vinculada à tradição oral, muda completamente com o surgimento da informação, assim como a invenção do telégrafo elétrico derruba as distâncias e permite que o mundo se torne “menor”. A técnica transforma não apenas o mundo, mas também o homem. A narração oral possui uma lógica particular, seu conhecimento não pode ser aceito pelo pensamento moderno, que vive de resultados imediatos. A linguagem precisa de tempo para adquirir significado. Os antigos sabiam que as palavras são menos incompreendidas, traídas e esquecidas quando são plenamente compreendidas desde o inicio. Eles davam a cada palavra o tempo necessário para que fosse ouvida e entendida. Rosenstock-Huessy compreendeu como Benjamin que as transformações resultaram em crise. Com o advento da imprensa, ocorre uma produção contínua de informações. A relação real dessas informações com a existência social está determinada pela dependência dessa atividade informativa face aos interesses da bolsa (capital). A crítica benjaminiana vai contra o poder do capitalismo, que transforma a comunicação humana numa fonte de lucro. Na modernidade, com o surgimento do capitalismo, as relações de troca são substituídas pelo comércio. O ritmo da produção capitalista segue a lei da maior produção por um menor tempo. Dessa forma, a própria cidade adquire uma nova face. Por trás dos acontecimentos econômicos se encontra o grande motor da mudança: a tecnologia. Isso não quer dizer que ela seja a única fonte de transformações sociais, mas é indiscutível seu caráter preponderante no impulso de aceleração. Não obstante, esse não é um processo moderno, a expulsão na narração da esfera do discurso vivo já fazia parte do desenvolvimento das forças produtivas. A modernidade é apenas o local onde se concretiza. Com o surgimento do capitalismo deriva o gosto pelas imagens, estas se transformam em mercadorias. É a predominância do visual sobre o auditivo. A natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam completamente, e aos olhos das pessoas, fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que vêem o objetivo da vida apenas como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectiva de meios, surge uma existência que se basta a si mesma, em cada episódio, do modo mais simples e mais cômodo, e na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu de palha, e uma fruta na árvore se arredonda como a gôndola de um balão. 28 28 BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Obras escolhidas I: magia, técnica, arte e política. Trad.; Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 118-119. 30

As mudanças ocorridas na modernidade se refletem no surgimento da imprensa e do romance. Ambos partem de uma forma de leitura dinâmica desconhecida até então, forma esta onde predomina a velocidade. Estas mudanças alteram a experiência do homem moderno. O declínio da experiência está de alguma maneira relacionado à automatização e repetição da vida moderna. Tanto a informação, quanto o romance, alcançam o status de mercadoria na modernidade, determinando assim todo um novo ritmo de produção. No ensaio Sobre alguns temas em Baudelaire, podemos ler: Há uma rivalidade histórica entre as diversas formas da comunicação. Na substituição da antiga forma narrativa pela informação pela sensação reflete-se a crescente atrofia da experiência. Todas essas formas, por sua vez, se distinguem da narração, que é uma das mais antigas formas de comunicação. Esta não tem a pretensão de transmitir um acontecimento, pura e simplesmente (como a informação faz); integra-o à vida do narrador, para passá-lo aos ouvintes como experiência. Nela ficam impressas as marcas do narrador como vestígios das mãos do oleiro no vaso de argila. 29 Ele constata que as transformações urbanas levaram as pessoas a se adaptarem a uma nova experiência caracterizada pela cidade grande. Onde as relações recíprocas dos seres humanos se distinguem pela influência da atividade visual sobre a auditiva. Anteriormente, predominava de certo modo a atividade auditiva sobre a visual, ambiente ideal para a vida do narrador tradicional. A necessidade de informação aliada à sua velocidade leva à vivência do choque. Este é um dos temas presentes no estudo sobre a narração. Ao recorrer à obra de Nikolai Leskov, Benjamin encontra nela as características do poeta lírico. Leskov se interessava pelos camponeses e tinha uma religiosidade que perpassava toda sua obra. Na verdade, ele era um homem que, como Benjamin, buscava uma relação com a natureza, relação essa que desaparece na modernidade. A narração oral é fundamental para a formação do sujeito. Ela sempre foi reconhecida pelo valor da rememoração; dessa forma, é através da palavra que o passado é resgatado do seu esquecimento e do silêncio. Quem não honra seu passado não tem futuro. Essa é a essência da vida consciente. Vida capaz de articular tempos e lugares, entre passado e futuro de forma convincente, em que recebemos a direção e a orientação quanto a nosso lugar no tempo. A importância 29 Op.cit. p.107. 31

até então estava vinculada à tradição oral, muda completamente com o surgimento<br />

da informação, assim como a invenção do telégrafo elétrico <strong>de</strong>rruba as distâncias e<br />

permite que o mundo se torne “menor”. A técnica transforma não apenas o mundo,<br />

mas também o hom<strong>em</strong>. A narração oral possui uma lógica particular, seu<br />

conhecimento não po<strong>de</strong> ser aceito pelo pensamento mo<strong>de</strong>rno, que vive <strong>de</strong><br />

resultados imediatos. A linguag<strong>em</strong> precisa <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po para adquirir significado. Os<br />

antigos sabiam que as palavras são menos incompreendidas, traídas e esquecidas<br />

quando são plenamente compreendidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio. Eles davam a cada palavra o<br />

t<strong>em</strong>po necessário para que fosse ouvida e entendida. Rosenstock-Huessy<br />

compreen<strong>de</strong>u como Benjamin que as transformações resultaram <strong>em</strong> crise.<br />

Com o advento da imprensa, ocorre uma produção contínua <strong>de</strong> informações.<br />

A relação real <strong>de</strong>ssas informações com a existência social está <strong>de</strong>terminada pela<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> informativa face aos interesses da bolsa (capital). A<br />

crítica <strong>benjamin</strong>iana vai contra o po<strong>de</strong>r do capitalismo, que transforma a<br />

comunicação humana numa fonte <strong>de</strong> lucro. Na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, com o surgimento do<br />

capitalismo, as relações <strong>de</strong> troca são substituídas pelo comércio. O ritmo da<br />

produção capitalista segue a lei da maior produção por um menor t<strong>em</strong>po. Dessa<br />

forma, a própria cida<strong>de</strong> adquire uma nova face. Por trás dos acontecimentos<br />

econômicos se encontra o gran<strong>de</strong> motor da mudança: a tecnologia. Isso não quer<br />

dizer que ela seja a única fonte <strong>de</strong> transformações sociais, mas é indiscutível seu<br />

caráter prepon<strong>de</strong>rante no impulso <strong>de</strong> aceleração.<br />

Não obstante, esse não é um processo mo<strong>de</strong>rno, a expulsão na narração da<br />

esfera do discurso vivo já fazia parte do <strong>de</strong>senvolvimento das forças produtivas. A<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é apenas o local on<strong>de</strong> se concretiza. Com o surgimento do capitalismo<br />

<strong>de</strong>riva o gosto pelas imagens, estas se transformam <strong>em</strong> mercadorias. É a<br />

predominância do visual sobre o auditivo.<br />

A natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam<br />

completamente, e aos olhos das pessoas, fatigadas com as<br />

complicações infinitas da vida diária e que vê<strong>em</strong> o objetivo da vida<br />

apenas como o mais r<strong>em</strong>oto ponto <strong>de</strong> fuga numa interminável<br />

perspectiva <strong>de</strong> meios, surge uma existência que se basta a si<br />

mesma, <strong>em</strong> cada episódio, do modo mais simples e mais cômodo, e<br />

na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu <strong>de</strong> palha, e<br />

uma fruta na árvore se arredonda como a gôndola <strong>de</strong> um balão. 28<br />

28 BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Obras escolhidas I: magia, técnica, arte e<br />

política. Trad.; Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 118-119.<br />

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