walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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para ele o segredo da relação de todas as línguas com a língua sagrada. 15 Acredito que o pensamento de Abuláfia influenciou os estudos sobre a linguagem de Benjamin. Abuláfia acreditava que todas as línguas faladas, não só o hebraico, seriam passiveis de se transformarem por meio de uma combinatória mística em línguas sagradas e em nomes sagrados. E, como para ele todas as línguas provêm de uma corrupção de uma língua original, o hebraico, todas permanecem aparentadas a ela. O ensaio A Tarefa do tradutor é praticamente um resumo dos seus estudos cabalísticos. Benjamin parte da idéia de que a alienação do homem é uma alienação da linguagem, e que esta surge com a queda de Adão no paraíso. Suas palavras remetem ao cabalista medieval em gênero, número e grau: O imediatismo na comunicação da abstração manifestou-se sentenciador, quando no pecado original o homem abandonou o imediatismo na comunicação do concreto, o nome, e caiu no precipício do mediatismo de toda a comunicação, da palavra enquanto meio da palavra vã, no principio do palavreado. Porque – e isto deve ser dito uma vez mais – a questão sobre o bem e o mal, no mundo, posterior à criação, foi o palavreado. 16 Ao destacar-se da língua pura do nome, o homem faz da língua um meio e com isso, pelo menos em parte, um mero signo. Isso conduz posteriormente a maioria das línguas. Para Benjamin a servidão da linguagem no palavreado se junta inevitavelmente à servidão das coisas na loucura. No ignorar das coisas, que constitui a servidão, surgiu o plano para a construção da torre e com ela a confusão das línguas. A crítica benjaminiana ao progresso já está representada pela figura da Torre de Babel. Sua crítica é uma constatação de que a alienação do homem na modernidade é parte da alienação da linguagem. Como de costume, ele faz uso da alegoria para explicar a crise da linguagem humana. Para o judaísmo, a construção da Torre de Babel tem um caráter negativo, e representa o orgulho e a vaidade do 15 SCHOLEM, Gershom. As grandes correntes da mística judaica. Trad.: J. Guinsburg, Dora Ruhman, Fany Kon, Jeanete Meiches e Renato Mezan. São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 151. 16 Op.cit. p.193. 20
homem diante de Deus. Encontramos em Franz Kafka uma referência à Torre de Babel no pequeno conto O brasão da cidade: No início tudo estava numa ordem razoável na construção da Torre de Babel; talvez a ordem fosse até excessiva, pensava-se demais em sinalizações, intérpretes, alojamentos de trabalhadores e vias de comunicação como se à frente houvesse séculos de livres possibilidades de trabalho. A opinião reinante na época chegava a ponto de que não se podia trabalhar com lentidão suficiente, ela não precisava ser muito enfatizada para que se recuasse assustado ante o pensamento de assentar os alicerces. Argumentava-se da seguinte maneira: o essencial do empreendimento todo é a idéia de construir uma torre que alcance o céu. Ao lado dela tudo mais é secundário. Uma vez apreendida na sua grandeza, essa idéia não pode mais desaparecer; enquanto existirem homens, existirá também o forte desejo de construir a torre até o fim. Mas nesse sentido não é preciso se preocupar com o futuro, pelo contrário, o conhecimento da humanidade aumenta, a arquitetura fez e continuará fazendo mais progresso, um trabalho para o qual necessitamos de um ano será dentro de cem anos realizado talvez em meio e, além disso, melhor, com mais consistência. 17 A crítica feita por Kafka muito se aproxima da idéia de Benjamin. Ao fazer uso da metáfora torre-conhecimento, ele aponta para a crise do século XX, onde a técnica parece se tornar uma nova metafísica. Alcançar o céu através de uma torre é o empreendimento da humanidade desde seus primórdios. Para Benjamin, a ideologia do progresso não passava de mito, um mito que precisa ser superado. Ele nunca escondeu seu engajamento em relação a certas posições morais e políticas, recusando o mito de um conhecimento neutro da sociedade: Evidentemente, Benjamin não nega que os conhecimentos e as atitudes humanas progrediram (ele o afirma explicitamente nas Teses); o que ele recusa obstinadamente e apaixonadamente, tanto no Passagen-Werk quanto nos outros escritos de seus últimos anos, é o mito – em sua opinião, mortalmente perigoso – de um progresso da própria humanidade, que resulta necessariamente das descobertas técnicas, do desenvolvimento das forças produtivas, da dominação crescente sobre a natureza. 18 17 KAFKA, Franz. Narrativas do espólio. Trad.: Modesto Carone. São Paulo: Companhia das letras, 2002. p.108. 18 LOWY, Michel. Romantismo e messianismo. Trad.: Myrian Veras Baptista e Magdalena Pizante Baptista. São Paulo: Perspectiva, 1990. p.192. 21
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sagrada. 15<br />
Acredito que o pensamento <strong>de</strong> Abuláfia influenciou os estudos sobre a<br />
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permanec<strong>em</strong> aparentadas a ela.<br />
O ensaio A Tarefa do tradutor é praticamente um resumo dos seus estudos<br />
cabalísticos. Benjamin parte da idéia <strong>de</strong> que a alienação do hom<strong>em</strong> é uma alienação<br />
da linguag<strong>em</strong>, e que esta surge com a queda <strong>de</strong> Adão no paraíso. Suas palavras<br />
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O imediatismo na comunicação da abstração manifestou-se<br />
sentenciador, quando no pecado original o hom<strong>em</strong> abandonou o<br />
imediatismo na comunicação do concreto, o nome, e caiu no<br />
precipício do mediatismo <strong>de</strong> toda a comunicação, da palavra<br />
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isto <strong>de</strong>ve ser dito uma vez mais – a questão sobre o b<strong>em</strong> e o mal, no<br />
mundo, posterior à criação, foi o palavreado. 16<br />
Ao <strong>de</strong>stacar-se da língua pura do nome, o hom<strong>em</strong> faz da língua um meio e<br />
com isso, pelo menos <strong>em</strong> parte, um mero signo. Isso conduz posteriormente a<br />
maioria das línguas. Para Benjamin a servidão da linguag<strong>em</strong> no palavreado se junta<br />
inevitavelmente à servidão das coisas na loucura. No ignorar das coisas, que<br />
constitui a servidão, surgiu o plano para a construção da torre e com ela a confusão<br />
das línguas.<br />
A crítica <strong>benjamin</strong>iana ao progresso já está representada pela figura da Torre<br />
<strong>de</strong> Babel. Sua crítica é uma constatação <strong>de</strong> que a alienação do hom<strong>em</strong> na<br />
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alegoria para explicar a crise da linguag<strong>em</strong> humana. Para o judaísmo, a construção<br />
da Torre <strong>de</strong> Babel t<strong>em</strong> um caráter negativo, e representa o orgulho e a vaida<strong>de</strong> do<br />
15 SCHOLEM, Gershom. As gran<strong>de</strong>s correntes da mística judaica. Trad.: J. Guinsburg,<br />
Dora Ruhman, Fany Kon, Jeanete Meiches e Renato Mezan. São Paulo: Perspectiva, 1995.<br />
p. 151.<br />
16 Op.cit. p.193.<br />
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