walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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A citação indica a opção <strong>de</strong> Benjamin por uma análise teológico-alegórica. A<br />
orig<strong>em</strong> teológica da linguag<strong>em</strong> não garante nenhuma presença <strong>de</strong> sentido, mas abre<br />
no interior da linguag<strong>em</strong> humana lugar para o inominável, ou seja, o que a teologia<br />
judaica chama <strong>de</strong> o nome proibido <strong>de</strong> Deus:<br />
A anamnesis platônica talvez esteja longe <strong>de</strong>sse gênero <strong>de</strong><br />
r<strong>em</strong>iniscência. Somente, não se trata <strong>de</strong> uma atualização visual das<br />
imagens, mas <strong>de</strong> um processo <strong>em</strong> que a cont<strong>em</strong>plação filosófica a<br />
idéia se libera (sic), enquanto palavra, do âmago da realida<strong>de</strong><br />
reivindicando <strong>de</strong> novo seus direitos <strong>de</strong> nomeação. Em última análise,<br />
contudo, na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong> não está Platão, e sim Adão, pai<br />
dos homens e pai da filosofia. A nomeação adamítica está longe <strong>de</strong><br />
ser jogo e arbítrio, que somente nela se confirma a condição<br />
paradisíaca, que não precisava ainda lutar contra a dimensão<br />
significativa das palavras. As idéias se dão, <strong>de</strong> forma não intencional,<br />
no ato nomeador, e têm <strong>de</strong> ser renovadas pela cont<strong>em</strong>plação<br />
filosófica. Nesta renovação, a percepção original das palavras é<br />
restaurada. E por isso, no curso <strong>de</strong> sua história, tantas vezes objeto<br />
<strong>de</strong> zombaria, a filosofia t<strong>em</strong> sido, com toda razão, uma luta pela<br />
representação <strong>de</strong> algumas poucas palavras, s<strong>em</strong>pre as mesmas – as<br />
idéias. 11<br />
Para Benjamin, a arte e a filosofia têm por função restaurar o que foi alterado<br />
pela Queda: a linguag<strong>em</strong> dos nomes. Uma parte consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> seu pensamento<br />
se fundamenta sobre o signo <strong>de</strong>ssa tarefa reparadora. Sua concepção <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong><br />
torna absoluta a função poética <strong>de</strong> revelação <strong>em</strong> contrapartida <strong>de</strong> toda função social,<br />
<strong>de</strong>notativa. Como observou Jeanne Marie Gagnebin:<br />
Assim, na leitura <strong>benjamin</strong>iana <strong>de</strong> Gênese 2:20, a língua adâmica<br />
respon<strong>de</strong> ao verbo criador <strong>de</strong> Deus quando ela dá um nome aos<br />
animais; ao reconhecer o objeto como criado, ela o conhece na sua<br />
essência imediata. Por isso os nomes adâmicos só diz<strong>em</strong> <strong>de</strong> si, isto<br />
é, já do objeto na sua plenitu<strong>de</strong>. A “queda” é a perda dolorosa <strong>de</strong>sta<br />
imediaticida<strong>de</strong>, perda que se manifesta, no plano lingüístico, por uma<br />
espécie <strong>de</strong> “sobre<strong>de</strong>nominação” (uberbenennung), uma mediação<br />
infinita do conhecimento que nunca chega ao seu fim. Des<strong>de</strong> então,<br />
a linguag<strong>em</strong> humana se per<strong>de</strong> nos meandros <strong>de</strong> uma significação<br />
infinita, pois tributária <strong>de</strong> signos arbitrários. 12<br />
11 Ibid. p.59.<br />
12 GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração <strong>em</strong> Walter Benjamin. 2. ed. São Paulo:<br />
Perspectiva, 2004. p. 17-18.<br />
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