walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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O valor da experiência está presente <strong>em</strong> boa parte dos seus escritos, <strong>em</strong> que<br />
ele procura conciliar experiência e m<strong>em</strong>ória para, a partir <strong>de</strong>las, tratar da importância<br />
da narração oral. Seu ponto <strong>de</strong> partida é a tradição oral judaica, <strong>em</strong> particular, a<br />
tradição que não reconhece limites na interpretação, como na tradição cabalística e<br />
hassídica. Ao partir da experiência teológica, constrói nas suas analises estéticas<br />
uma relação direta entre linguag<strong>em</strong> e história, <strong>em</strong> que a linguag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong><br />
test<strong>em</strong>unha e a história é o lugar <strong>de</strong> consumação dos fatos. A proposta <strong>de</strong> uma<br />
possível filosofia da linguag<strong>em</strong>, assim como sua concepção da história, é o começo<br />
e a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma teoria da arte. Essa é a razão pela qual o seu trabalho <strong>de</strong><br />
crítico literário vai além do <strong>de</strong> mero comentador.<br />
A linguag<strong>em</strong> não é uma particularida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>. Tudo na criação é<br />
linguag<strong>em</strong>. A do hom<strong>em</strong> é apenas uma forma particular, privilegiada, <strong>de</strong> uma<br />
linguag<strong>em</strong> geral. Sua concepção mística da linguag<strong>em</strong> busca tirar <strong>de</strong>la qualquer<br />
concepção instrumentalista:<br />
A língua nunca dá meros signos. Mas também é ambígua a recusa<br />
da teoria lingüística burguesa pela teoria lingüística mística. Pois,<br />
segundo esta, a palavra é pura e simplesmente a essência da coisa.<br />
Isto é incorreto porque a coisa <strong>em</strong> si não t<strong>em</strong> palavra, é criada a<br />
partir da palavra <strong>de</strong> Deus e conhecida no seu nome segundo a<br />
palavra humana. 9<br />
A instrumentalização da linguag<strong>em</strong> tira <strong>de</strong>la toda possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
experiência mística nela contida. A linguag<strong>em</strong> abriga a palavra, que carrega a idéia,<br />
esta é guardiã da essência da palavra. Ele recorre a fontes cabalísticas para<br />
construir sua “teoria da linguag<strong>em</strong>”:<br />
A idéia é algo <strong>de</strong> lingüístico, é o el<strong>em</strong>ento simbólico presente na<br />
essência da palavra. Na percepção <strong>em</strong>pírica, <strong>em</strong> que as palavras se<br />
fragmentaram, elas possu<strong>em</strong>, ao lado <strong>de</strong> sua dimensão simbólica<br />
mais ou menos oculta, uma significação profana evi<strong>de</strong>nte. A tarefa do<br />
filósofo é restaurar <strong>em</strong> sua primazia, pela representação, o caráter<br />
simbólico da palavra, no qual a idéia chega à consciência <strong>de</strong> si, o<br />
que é o oposto <strong>de</strong> qualquer comunicação dirigida para o exterior.<br />
Como a filosofia não po<strong>de</strong> ter a arrogância <strong>de</strong> falar no tom da<br />
revelação, essa tarefa só po<strong>de</strong> cumprir-se pela r<strong>em</strong>iniscência,<br />
voltada retrospectivamente para a percepção original. 10<br />
9 Ibid. p. 188.<br />
10 BENJAMIN, Walter. Orig<strong>em</strong> do drama barroco al<strong>em</strong>ão. Trad.: Sergio Paulo Rouanet.<br />
São Paulo: Brasiliense, 1983. p.58-59.<br />
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