walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ... walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
passado precisa ser despertado no momento em que a teologia ressurge. O capítulo tem três seções: O cronista e a história; O Anjo da História; e O tempo messiânico. Cada capítulo tem seu ponto-chave, que somado ao seguinte completa a idéia central do trabalho. No primeiro capítulo é a experiência da linguagem; no segundo é a teologia; e no último, a história. Estes três pontos são fundamentais para compreender a força presente na idéia de revelação e redenção no pensamento de Walter Benjamin. Duas idéias teológicas que emanam da força da alegoria no seu pensamento. 12
CAPÍTULO I - O DECLÍNIO DA EXPERIÊNCIA E A CRÍTICA AO PROGRESSO 1.1 A EXPERIÊNCIA DA LINGUAGEM Experiência filosófica do mundo e de sua realidade – isto é o que significa a palavra metafísica e é nesse sentido que é usada por Benjamin. Ele foi, na verdade, um metafísico, diria eu: um metafísico puro e simples. 13 Gershom Scholem. Neste capítulo analiso o estudo da linguagem desenvolvido por Walter Benjamin, em particular, seu estudo sobre a narração. Compreender a importância da narração tradicional (oral) é compreender o valor da experiência “Erfahrung” para a formação do sujeito. Narrar é antes de tudo intercambiar experiências, é um diálogo no qual quem tem algo a dizer enriquece o outro e vice-versa. Nesta experiência dialógica o homem encontra a sua humanidade. É sobre isso que nos escreve Benjamin no ensaio O Narrador. Quando o homem perde a sua capacidade de narrar é porque sua experiência foi abalada. Encontramos em O Narrador uma forte influência da tradição oral judaica, particularmente do movimento hassídico 1 . Uma das principais características desse movimento é que os hassidim 2 contassem entre si histórias sobre seus lideres, os tzadikim 3 . As palavras não eram meros discursos transmitidos às gerações vindouras, mas vão além, já que a narrativa passa a ser acontecimento, recebendo a consagração de um ato sagrado. Para eles, a fala (narração) é parte essencial da ação, indo além da reflexão, já que a essência sagrada que ela testifica continua vivendo nela. No texto Curriculum Vitae 4 , Benjamin afirma que seu pensamento é uma filosofia da linguagem. A mística da linguagem judaica está presente em sua filosofia. Segundo esta, o mundo da linguagem é o verdadeiro mundo espiritual, em 1 Movimento judaico que nasceu no Leste Europeu em meados do século 18, fundado por Israel Baal-Schem, bisavô de Rabi Nakhman, em que predominava a narração oral. Defendia a tese mística de que a comunhão com Deus (Devekut) é mais importante que o estudo dos livros. 2 Seguidores do hassidismo. 3 Tzadikim é o plural de tzadik, uma palavra hebraica que significa homem justo, íntegro, reto; capaz de cumprir a Lei com plenitude e sabedoria. 4 BENJAMIN, Walter. Sobre arte, técnica, linguagem e política. Trad.: Maria Luz Moita, Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto. Lisboa: Relógio d´Água, 1992.
- Page 1 and 2: RICARDO SOUZA CRUZ WALTER BENJAMIN:
- Page 3 and 4: A Aldeir Jatobá, que possibilitou
- Page 5 and 6: A saudade que em mim desperta o jog
- Page 7 and 8: ABSTRACT The work search to analyze
- Page 9 and 10: INTRODUÇÃO O trabalho aqui aprese
- Page 11: concreto e simbólico. Nesse ponto,
- Page 15 and 16: humanas. O estudo sobre a linguagem
- Page 17 and 18: A citação indica a opção de Ben
- Page 19 and 20: A mística da linguagem cabalista d
- Page 21 and 22: homem diante de Deus. Encontramos e
- Page 23 and 24: Isso quer dizer, porém, que soment
- Page 25 and 26: sociedade a técnica prioritariamen
- Page 27 and 28: que não se falou ontem termina em
- Page 29 and 30: Benjamin desejava uma sociedade sem
- Page 31 and 32: As mudanças ocorridas na modernida
- Page 33 and 34: do campo da correspondência. É ne
- Page 35 and 36: Benjamin suspeita da idéia de teso
- Page 37 and 38: Em sua grande maioria, seus textos
- Page 39 and 40: teológico. Sua crítica à moderni
- Page 41 and 42: urbana e industrial, não conhece m
- Page 43 and 44: cotidiana, o choque se impôs como
- Page 45 and 46: Dessa forma, o que está envolvido
- Page 47 and 48: tempo que a sustém e que permite p
- Page 49 and 50: Para a maioria dos físicos o fluxo
- Page 51 and 52: Quem é autenticamente fiel é cham
- Page 53 and 54: omance, é em nome de um desejo de
- Page 55 and 56: Quando o sofrimento não pode mais
- Page 57 and 58: homem ético. Ao trazer a figura do
- Page 59 and 60: Benjamin tinha uma grande admiraç
- Page 61 and 62: A obra de Kafka é uma elipse cujos
CAPÍTULO I - O DECLÍNIO DA EXPERIÊNCIA E A CRÍTICA AO PROGRESSO<br />
1.1 A EXPERIÊNCIA DA LINGUAGEM<br />
Experiência filosófica do mundo e <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong> – isto é o que<br />
significa a palavra metafísica e é nesse sentido que é usada por<br />
Benjamin. Ele foi, na verda<strong>de</strong>, um metafísico, diria eu: um metafísico<br />
puro e simples.<br />
13<br />
Gershom Schol<strong>em</strong>.<br />
Neste capítulo analiso o estudo da linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvido por Walter<br />
Benjamin, <strong>em</strong> particular, seu estudo sobre a narração. Compreen<strong>de</strong>r a importância<br />
da narração tradicional (oral) é compreen<strong>de</strong>r o valor da experiência “Erfahrung” para<br />
a formação do sujeito. Narrar é antes <strong>de</strong> tudo intercambiar experiências, é um<br />
diálogo no qual qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> algo a dizer enriquece o outro e vice-versa. Nesta<br />
experiência dialógica o hom<strong>em</strong> encontra a sua humanida<strong>de</strong>. É sobre isso que nos<br />
escreve Benjamin no ensaio O Narrador. Quando o hom<strong>em</strong> per<strong>de</strong> a sua capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> narrar é porque sua experiência foi abalada.<br />
Encontramos <strong>em</strong> O Narrador uma forte influência da tradição oral judaica,<br />
particularmente do movimento hassídico 1 . Uma das principais características <strong>de</strong>sse<br />
movimento é que os hassidim 2 contass<strong>em</strong> entre si histórias sobre seus li<strong>de</strong>res, os<br />
tzadikim 3 . As palavras não eram meros discursos transmitidos às gerações<br />
vindouras, mas vão além, já que a narrativa passa a ser acontecimento, recebendo a<br />
consagração <strong>de</strong> um ato sagrado. Para eles, a fala (narração) é parte essencial da<br />
ação, indo além da reflexão, já que a essência sagrada que ela testifica continua<br />
vivendo nela.<br />
No texto Curriculum Vitae 4 , Benjamin afirma que seu pensamento é uma<br />
filosofia da linguag<strong>em</strong>. A mística da linguag<strong>em</strong> judaica está presente <strong>em</strong> sua<br />
filosofia. Segundo esta, o mundo da linguag<strong>em</strong> é o verda<strong>de</strong>iro mundo espiritual, <strong>em</strong><br />
1 Movimento judaico que nasceu no Leste Europeu <strong>em</strong> meados do século 18, fundado por<br />
Israel Baal-Sch<strong>em</strong>, bisavô <strong>de</strong> Rabi Nakhman, <strong>em</strong> que predominava a narração oral.<br />
Defendia a tese mística <strong>de</strong> que a comunhão com Deus (Devekut) é mais importante que o<br />
estudo dos livros.<br />
2 Seguidores do hassidismo.<br />
3 Tzadikim é o plural <strong>de</strong> tzadik, uma palavra hebraica que significa hom<strong>em</strong> justo, íntegro,<br />
reto; capaz <strong>de</strong> cumprir a Lei com plenitu<strong>de</strong> e sabedoria.<br />
4 BENJAMIN, Walter. Sobre arte, técnica, linguag<strong>em</strong> e política. Trad.: Maria Luz Moita,<br />
Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto. Lisboa: Relógio d´Água, 1992.