walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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09.05.2013 Views

Ao tomar a narração tradicional como parte fundamental para a formação do homem, Benjamin reconhece nela a possibilidade de transcendência no sentido teológico. Para ele a narrativa tradicional poderia salvar o presente a partir do momento em que resgata o passado. Nesse ponto, ele interpreta a história como narração e a narração como base para a história. Da experiência com a linguagem surge à possibilidade de uma história da salvação, como podemos ler em Sobre o conceito da história. Essa é a razão dele admitir a importância da narração oral para a formação do sujeito. É uma questão presente na rememoração, onde através da palavra busca-se salvar o passado que, caso não seja resgatado, desaparecerá no silêncio e no esquecimento. Benjamin reconhece as perdas decorrentes do abalo da narração tradicional, que ao ser sustentada pela memória coletiva, encontra nela sua força. Ele se preocupou em salvar o passado de um abandono definitivo. Por isso atribui à memória uma faculdade épica. Seu estudo sobre a narração e sua filosofia da história, dois temas muito próximos que se completam, partem do principio que a verdade presente na narração oral não deve ser procurada no seu desenrolar, pelo contrário, naquilo que lhe escapa e a esconde. No estudo sobre a história, propõe uma análise partindo do olhar dos vencidos. Por trás de tudo isso, encontra-se seu olhar exegético, que toma dos comentadores religiosos judeus, mais especificamente do midrasch. É o comentário que pontua a força do pensamento de Benjamin. Nele, o texto tem o poder de revelar ao leitor novos aspectos do seu interior, mas apenas se ele exercitar a hermenêutica do texto, onde a subjetividade abre as portas para o seu saber. Essa proposta está presente no estudo sobre a narração, onde narrador e ouvinte se aproximam através da experiência que lembra a leitura de um texto, onde a voz possibilita a revelação daquilo que se ocultava até então. O trabalho de escriba exercido por Benjamin dá grande importância a citação. É ela que ilumina o passado ao resgatá-lo de seu esquecimento. Ele acreditava que o exercício espiritual e cultural do comentário estava ligado à capacidade humana de compreender seu passado ao estabelecer uma conexão viva com ele. Na sua opinião, o confronto entre exegeta e texto, entre presente e passado, se torna difícil por conta do observador do presente lidar apenas com fragmentos. A postura de historiador que Benjamin agrega ao pensamento filosófico lhe possibilita a 122

mobilidade entre a história e a teologia. Dessa relação ele busca a salvação do homem. Sua crítica ao progresso parte justamente das perdas sofridas pela humanidade em seu nome. Segundo ele a perda da experiência está diretamente ligada às transformações dos meios de produção e o desenvolvimento do capitalismo. Para Benjamin, a arte do narrador é a arte de contar, sem a preocupação de ter que explicar tudo, sempre deixando a cada acontecimento a possibilidade de uma nova leitura. Neste ponto seu estudo possibilita escrever uma anti-história, já que possibilita ao passado um local de abertura. A narrativa oral possui uma dimensão utilitária como observou Benjamin. Essa utilidade pode consistir num ensino moral, numa sugestão pratica, num provérbio ou mesmo numa norma de vida. Podemos concluir que o narrador é um homem que sabe dar conselhos. Infelizmente o mundo moderno toma o conselho como sendo algo antiquado, já que a comunicabilidade da experiência perdeu o valor. Resulta disso que o homem não sabe dar conselho nem para si nem para os outros. O conselho enquanto parte da existência se chama sabedoria, está vem desaparecendo em decorrência do seu afastamento da verdade, que para ele encontra-se dentro de uma categoria teológica. O empreendimento hermenêutico de seu trabalho possibilitou conciliar história e narração, revelação e redenção num só ponto a experiência da linguagem. A busca de uma experiência perdida cuja rememoração ele encontra na figura do narrador, de uma sociedade sem classe, vivendo num estado de harmonia edênica com a natureza; experiência que desaparece com o surgimento da civilização moderna, que ele busca salvar através da utopia messiânica. Ele atribui a narração oral uma força derivada da troca de experiências. É ela que possibilita a formação do homem, assim como o fortalecimento dos valores da comunidade. O desaparecimento da arte de narrar, o abalo da tradição oral e o enfraquecimento de uma memória comum, que garantiam a presença de uma experiência coletiva, estava ligada diretamente a uma forma de trabalho e um determinado tempo compartilhado. Em um universo prático com uma linguagem comum. A memória é decisiva para a estruturação da experiência, já que a experiência é uma matéria da tradição. 123

mobilida<strong>de</strong> entre a história e a teologia. Dessa relação ele busca a salvação do<br />

hom<strong>em</strong>.<br />

Sua crítica ao progresso parte justamente das perdas sofridas pela<br />

humanida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seu nome. Segundo ele a perda da experiência está diretamente<br />

ligada às transformações dos meios <strong>de</strong> produção e o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

capitalismo. Para Benjamin, a arte do narrador é a arte <strong>de</strong> contar, s<strong>em</strong> a<br />

preocupação <strong>de</strong> ter que explicar tudo, s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>ixando a cada acontecimento a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova leitura. Neste ponto seu estudo possibilita escrever uma<br />

anti-história, já que possibilita ao passado um local <strong>de</strong> abertura.<br />

A narrativa oral possui uma dimensão utilitária como observou Benjamin.<br />

Essa utilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> consistir num ensino moral, numa sugestão pratica, num<br />

provérbio ou mesmo numa norma <strong>de</strong> vida. Po<strong>de</strong>mos concluir que o narrador é um<br />

hom<strong>em</strong> que sabe dar conselhos. Infelizmente o mundo mo<strong>de</strong>rno toma o conselho<br />

como sendo algo antiquado, já que a comunicabilida<strong>de</strong> da experiência per<strong>de</strong>u o<br />

valor. Resulta disso que o hom<strong>em</strong> não sabe dar conselho n<strong>em</strong> para si n<strong>em</strong> para os<br />

outros. O conselho enquanto parte da existência se chama sabedoria, está v<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>saparecendo <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do seu afastamento da verda<strong>de</strong>, que para ele<br />

encontra-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma categoria teológica.<br />

O <strong>em</strong>preendimento hermenêutico <strong>de</strong> seu trabalho possibilitou conciliar história<br />

e narração, revelação e re<strong>de</strong>nção num só ponto a experiência da linguag<strong>em</strong>. A<br />

busca <strong>de</strong> uma experiência perdida cuja r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração ele encontra na figura do<br />

narrador, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> s<strong>em</strong> classe, vivendo num estado <strong>de</strong> harmonia edênica<br />

com a natureza; experiência que <strong>de</strong>saparece com o surgimento da civilização<br />

mo<strong>de</strong>rna, que ele busca salvar através da utopia messiânica. Ele atribui a narração<br />

oral uma força <strong>de</strong>rivada da troca <strong>de</strong> experiências. É ela que possibilita a formação do<br />

hom<strong>em</strong>, assim como o fortalecimento dos valores da comunida<strong>de</strong>. O<br />

<strong>de</strong>saparecimento da arte <strong>de</strong> narrar, o abalo da tradição oral e o enfraquecimento <strong>de</strong><br />

uma m<strong>em</strong>ória comum, que garantiam a presença <strong>de</strong> uma experiência coletiva,<br />

estava ligada diretamente a uma forma <strong>de</strong> trabalho e um <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>po<br />

compartilhado. Em um universo prático com uma linguag<strong>em</strong> comum. A m<strong>em</strong>ória é<br />

<strong>de</strong>cisiva para a estruturação da experiência, já que a experiência é uma matéria da<br />

tradição.<br />

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