walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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narrativa é um convite a repensar a vida a partir da m<strong>em</strong>ória. Se a m<strong>em</strong>ória não é<br />
mais exercitada, por conta da ausência da narração oral, é b<strong>em</strong> provável que a<br />
própria história perca o seu sentido <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua atrofia.<br />
O narrador narra a vida, não a morte. Dessa vida narrada busca-se um<br />
sentido, um sentido para a vida e um sentido para a morte. Das lições que ele tira, a<br />
mais importante é, s<strong>em</strong> dúvida, o valor da vida. A vida não é tão somente o aqui e<br />
agora, mas o porvir. Se existe ou não vida após a morte, isso é irrelevante para o<br />
narrador, o que importa é que a pessoa ou o fato permaneça vivo na m<strong>em</strong>ória. A<br />
experiência da revelação conduz a re<strong>de</strong>nção através da m<strong>em</strong>ória. Revelação<br />
presente <strong>em</strong> Sobre a linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral, sobre a linguag<strong>em</strong> humana e A Tarefa do<br />
tradutor, e na re<strong>de</strong>nção proposta <strong>em</strong> Sobre o conceito da história. Nessa jornada<br />
terrena se encontram o narrador e o cronista, guardiões da história, ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong><br />
conduta, e uma referência muito próxima ao tzadik do judaísmo.<br />
Em alguns ensaios observa-se o interesse <strong>de</strong> retomar uma linguag<strong>em</strong><br />
perdida, assim como <strong>de</strong> um mundo perdido, através da busca <strong>de</strong> uma vida justa<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> valores b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos. A doutrina do Tikun leva cada ju<strong>de</strong>u, <strong>de</strong> um modo<br />
ignorado até então, ao papel <strong>de</strong> protagonista no gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong> restituição.<br />
Essa doutrina cabalística carrega a força messiânica. Em resumo, a Cabala <strong>de</strong> Luria<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como uma interpretação mística do Exílio e da Re<strong>de</strong>nção, dois<br />
pontos presentes no pensamento <strong>de</strong> Benjamin:<br />
118<br />
Esta nova doutrina <strong>de</strong> Deus e do universo correspon<strong>de</strong> à nova idéia<br />
moral <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> que ela propaga: o i<strong>de</strong>al do ascético cujo alvo<br />
é a reforma messiânica, a extinção da mácula do mundo, restituição<br />
<strong>de</strong> todas as coisas <strong>em</strong> Deus – do hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> ação espiritual que<br />
através do Tikun, rompe o exílio, o exílio histórico da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Israel e aquele exílio interior no qual toda criação g<strong>em</strong>e. 152<br />
A experiência histórica <strong>de</strong> Benjamin carrega o anseio da re<strong>de</strong>nção, quer se<br />
trate do passado ou do futuro. A história continua aberta, mas cabe a cada um <strong>de</strong><br />
nós exercermos nosso papel na construção <strong>de</strong> um mundo melhor. Sua preocupação<br />
com a experiência, contudo, permitiu manter seu compromisso com a subjetivida<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> um mundo on<strong>de</strong> o mercantilismo e a política da guerra predominava. Seu<br />
pensamento <strong>de</strong>ixou marcas profundas <strong>em</strong> Adorno, que escreve no final <strong>de</strong> Minima<br />
Moralia, no aforismo 153:<br />
152 Op. cit. p. 319.