walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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ele a verda<strong>de</strong> quer dizer a vida consi<strong>de</strong>rada a luz da salvação messiânica. Não se<br />
trata <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> suscetível <strong>de</strong> justificação argumentada, mas <strong>de</strong> uma qualida<strong>de</strong><br />
da verda<strong>de</strong>ira vida.<br />
Logo, a análise teológica da linguag<strong>em</strong> proposta por Benjamin é construída<br />
conforme um paradigma messiânico/restitucionista <strong>de</strong> inspiração cabalística e<br />
romântica, on<strong>de</strong> busca a restauração da harmonia edênica, como já observamos. A<br />
chave para compreen<strong>de</strong>rmos o anarquismo <strong>de</strong> Benjamin está na sua proposta <strong>de</strong><br />
conciliar o messianismo judaico com o pensamento romântico. Ambos part<strong>em</strong> <strong>de</strong> um<br />
pensamento utópico/restitucionista, assim como t<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista uma perspectiva<br />
revolucionário-catastrófica da história e um i<strong>de</strong>al libertário do porvir. Um texto <strong>de</strong><br />
Benjamin <strong>em</strong> que se po<strong>de</strong> observar a força do pensamento anarquista é Crítica da<br />
violência – Crítica do po<strong>de</strong>r (1921):<br />
115<br />
Se, na última guerra, a crítica do po<strong>de</strong>r militar se tornou ponto <strong>de</strong><br />
partida para uma apaixonada crítica da violência <strong>em</strong> geral – crítica<br />
que pelo menos ensina que a violência não po<strong>de</strong> mais ser exercida<br />
<strong>de</strong> forma ingênua n<strong>em</strong> tolerada -, o po<strong>de</strong>r militar tornou-se objeto <strong>de</strong><br />
crítica não apenas como po<strong>de</strong>r constituinte <strong>de</strong> um direito, mas foi<br />
julgado <strong>de</strong> maneira talvez ainda mais arrasadora quanto uma outra<br />
função. Pois o que caracteriza o militarismo, que só chegou a ser o<br />
que é por causa do serviço militar obrigatório, é uma duplicida<strong>de</strong> na<br />
função da violência. O militarismo é a compulsão para o uso<br />
generalizado da violência como um meio para os fins do Estado. 149<br />
Benjamin alimentava um <strong>de</strong>sprezo pelas instituições do Estado, que<br />
transformam a violência numa ferramenta para manter a “or<strong>de</strong>m” através do medo.<br />
São essas vítimas da história que Benjamin nas Teses busca pagar uma dívida<br />
quando cobra do cronista uma postura ética no momento <strong>em</strong> que ele narra a história,<br />
s<strong>em</strong> fazer distinção entre os fatos gran<strong>de</strong>s e pequenos, levando <strong>em</strong> conta a verda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> que nada do que um dia aconteceu po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado perdido para a história.<br />
Apenas por este caminho, a humanida<strong>de</strong> redimida po<strong>de</strong>rá apropriar-se do seu<br />
passado, s<strong>em</strong> culpa.<br />
A experiência metafísica <strong>de</strong> Benjamin se constitui numa ética da solidarieda<strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> o valor da vida, a integrida<strong>de</strong> física do outro, e a reformulação da história a<br />
partir da responsabilida<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> cada um t<strong>em</strong> um papel fundamental no seu<br />
149 BENJAMIN, Walter. Crítica da violência: crítica do po<strong>de</strong>r. In: Documentos <strong>de</strong> cultura,<br />
documentos <strong>de</strong> barbárie. Trad.: Christl Brink, Ilka Roth, Irene Aron, outros. São Paulo:<br />
Cultrix, 1986. p. 164.