walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
114<br />
A associação intima entre t<strong>em</strong>as messiânicos e utópico-anarquistas<br />
finca suas raízes na critica neo-romântica do progresso. Se<br />
examinarmos um <strong>de</strong> seus primeiros trabalhos, o discurso “A vida dos<br />
estudantes” (1914), po<strong>de</strong>mos já perceber o esboço <strong>de</strong> toda sua<br />
Weltanschauung sócio-religioso. Contra a “informe tendência<br />
progressista”, ele celebra o po<strong>de</strong>r crítico <strong>de</strong> imagens utópicas, como<br />
a Revolução Francesa <strong>de</strong> 1789 ou o reino messiânico. As<br />
verda<strong>de</strong>iras questões que se colocam para a socieda<strong>de</strong> não são as<br />
da técnica e da ciência, mas os probl<strong>em</strong>as metafísicos levantados<br />
por Platão, Spinoza, os românticos e Nietzsche, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> inspirar<br />
os estudantes para que sua comunida<strong>de</strong> se torne “a elite <strong>de</strong> uma<br />
permanente revolução do espírito”. O anarquismo é sugerido pela<br />
afirmação <strong>de</strong> que toda ciência e toda arte livres são necessariamente<br />
“estranhas ao Estado e freqüent<strong>em</strong>ente inimigas do Estado. Mas ele<br />
se exprime <strong>de</strong> forma mais direta na referência ao espírito tolstoiano,<br />
com seu apelo a colocar-se a serviço dos pobres”, espírito que<br />
brotou nas concepções dos anarquistas mais profundos e nas<br />
comunida<strong>de</strong>s monásticas cristãs”. Utopia, anarquismo, revolução e<br />
messianismo estão alquimicamente combinados e articulados com<br />
uma crítica da cultura neo-romântica do “progresso” e do<br />
conhecimento puramente técnico/científico. O passado (as<br />
comunicações monásticas) e o futuro (a utopia anarquista) associamse<br />
diretamente num escorço tipicamente romântico-revolucionário. 148<br />
Acredito que o pensamento político <strong>de</strong> Benjamin só encontra uma saída: o<br />
anarquismo. Este é o único local on<strong>de</strong> o messianismo e as utopias libertárias<br />
po<strong>de</strong>riam se conciliar <strong>em</strong> vista <strong>de</strong> um futuro melhor para a humanida<strong>de</strong>. Sua crítica<br />
ao progresso, predominant<strong>em</strong>ente romântica, não <strong>de</strong>ixa espaço para outra forma <strong>de</strong><br />
pensamento senão o metafísico religioso. Seu interesse por escritores românticos e<br />
pela literatura cabalística, possibilita conciliar uma crítica ao progresso com o<br />
messianismo judaico, <strong>de</strong>ssa união surge uma análise teológica da linguag<strong>em</strong> muito<br />
particular, on<strong>de</strong> figuras românticas têm um papel importante na construção <strong>de</strong> um<br />
t<strong>em</strong>po messiânico: o narrador, o cronista, o justo. A questão da transmissibilida<strong>de</strong> se<br />
refere a essência da justiça do tipo sagrado na mística judaica <strong>em</strong> <strong>de</strong>clínio. No final o<br />
que está <strong>em</strong> jogo é a força messiânica transmitida a cada geração.<br />
A narração oral possibilitava a transmissibilida<strong>de</strong> da justiça através dos seus<br />
ensinamentos éticos. Nesses ensinamentos a força messiânica está presente,<br />
levando o individuo a pensar sua vida, sua realida<strong>de</strong> e sua história. Como Benjamin<br />
observou o justo é o porta-voz da criatura e ao mesmo t<strong>em</strong>po sua mais alta<br />
encarnação. Na narrativa a alma, o olho e a mão estão inscritos no mesmo campo.<br />
Interagindo, eles <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> uma prática. Essa prática nos <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser familiar. Para<br />
148 Op. cit. p. 86-87.