walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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ele, só a revolução messiânica e apocalíptica po<strong>de</strong>rá executar aquilo <strong>de</strong> que o Anjo<br />
da História, preso pela t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> do progresso, é incapaz: <strong>de</strong>ter essa t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>.<br />
Benjamin, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a juventu<strong>de</strong>, era um leitor atento da bíblia, o seu conjunto <strong>de</strong><br />
textos marca o momento <strong>de</strong> sua orig<strong>em</strong> espiritual. A bíblia é uma fonte primária<br />
inesgotável dos seus estudos sobre a linguag<strong>em</strong>, mas é o Zohar que o marcará<br />
<strong>de</strong>finitivamente, pois sua leitura possibilita levar a interpretação a seus limites mais<br />
extr<strong>em</strong>os, e que se constitui na mais radical possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinterpretação.<br />
Segundo ele, o exercício espiritual e cultural do comentário estava ligado à questão<br />
da capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o passado, e <strong>de</strong> estabelecer uma relação<br />
viva com ele. O confronto entre exegeta e texto, entre presente e passado,<br />
encontram-se <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> tensão, por conta do observador do presente lidar<br />
apenas com fragmentos.<br />
Em Sobre o conceito da história, Benjamin continua a pensar na idéia<br />
perturbadora, que parecia ridicularizar o ato espiritualmente necessário da exegese.<br />
No entanto, ele busca uma conciliação entre mundos distantes, entre o passado e o<br />
<strong>de</strong>sejo do presente <strong>de</strong> se apropriar <strong>de</strong> seus pequenos fragmentos, no intuito <strong>de</strong><br />
aten<strong>de</strong>r suas próprias necessida<strong>de</strong>s. Para ele, o texto não po<strong>de</strong>, e n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve, ser<br />
uma entida<strong>de</strong> estável. Essa opinião também faz parte <strong>de</strong> sua análise histórica. O<br />
que observo nesse ensaio é o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Benjamin <strong>em</strong> provar a existência <strong>de</strong> um<br />
absoluto divino do qual a humanida<strong>de</strong> ainda está à procura, e que ela precisa<br />
encontrar, se quiser ter uma noção exata do lugar que se encontra no universo. Para<br />
ele a noção <strong>de</strong> salvação (Rettung) s<strong>em</strong>pre foi primordial. Lowy observa:<br />
110<br />
Como s<strong>em</strong>pre, a resposta <strong>de</strong> Benjamin é dupla: religiosa e profana.<br />
Na esfera teológica, trata-se da tarefa do Messias; seu equivalente,<br />
ou seu “correspon<strong>de</strong>nte” profano é simplesmente a Revolução. A<br />
interrupção messiânica/revolucionária do Progresso é, portanto, a<br />
resposta <strong>de</strong> Benjamin às ameaças que faz<strong>em</strong> pesar sobre a espécie<br />
humana a continuação da t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> maléfica, a iminência <strong>de</strong><br />
catástrofes novas. 143<br />
Apenas o Messias po<strong>de</strong> realizar a tarefa que o Anjo da História é impotente:<br />
conter a t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>, cuidar dos feridos, ressuscitar os mortos e juntar o que foi<br />
quebrado. A idéia <strong>de</strong> quebra dos vasos, Tikkun, t<strong>em</strong> uma relação muito próxima com<br />
a Tese IX. Seu correspon<strong>de</strong>nte político <strong>de</strong> uma restituição mística <strong>de</strong> um paraíso<br />
143 Op. cit. p. 93.