walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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09.05.2013 Views

literária conduz a uma reflexão sobre a história, no duplo sentido do termo: como conjunto dos eventos do passado e como sua própria escritura. Em correspondência com Scholem, em junho de 1938, ele escreve que a obra de Kafka representa um adoecimento da tradição, na qual se tratou de definir a sabedoria às vezes como o lado épico da verdade. Esse tema também está presente no ensaio O Narrador, em que reconhece a importância da narração oral, ao resgatar o valor da tradição oral judaica. Ao reconhecer na narração oral a possibilidade de transmissibilidade da verdade, Benjamin atribui a ela o valor de relato da história, e dessa nova função surge o cronista, este personagem tão importante em Sobre o conceito da história. No seu último ensaio, Benjamin faz uma dura crítica ao historicismo, ao mesmo tempo em que continua sua crítica ao progresso. Nele surge o Anjo da História, uma figura alegórica, que carrega a força do pensamento messiânico judaico. A dialética entre teologia e política, que acredito ser o centro do seu pensamento, leva a uma concepção paradoxal da história e da salvação, ou mesmo da história da salvação. Esta dissertação se propõe a analisar aspectos do pensamento metafísico de Benjamin, particularmente seu estudo sobre a narração. Tendo em vista que o estudo é parte de seu interesse pela mística judaica (cabala), busco conciliar com as teses da história, onde a figura do Anjo da História tem um valor místico bem definido. Ele não representa uma totalidade reconciliada, mas também é uma vítima da “tempestade do progresso”, ao mesmo tempo em que é incapaz de restabelecer o que foi destruído. A metafísica foi o ar que ele respirou por toda vida. Se em momento algum ele se deu ao trabalho de fazer uma análise de Deus, a ética do Sinai sempre esteve presente nos seus escritos. Acredito que ele seja aquele que cumpre de modo mais radical a promessa da Escola de Frankfurt de uma abordagem multidisciplinar. Nessa abordagem, o materialismo tem a hermenêutica como suporte, enquanto que o pensamento messiânico se revela na história, tendo como objeto de trabalho a linguagem, que em sua opinião é onde se encontra a verdade. Este trabalho procura enfatizar no pensamento benjaminiano o seu aspecto teológico. Para ele, a teologia judaica possibilita uma saída, em certo ponto original e tem uma função positiva, tendo como meta mostrar que a experiência estética e as idéias históricas estão ligadas a categorias teológicas. Para Benjamin, Deus existia como o centro inatingível de um sistema de símbolos que o removia de tudo o que é 10

concreto e simbólico. Nesse ponto, faz sentido que enquanto a filosofia faz parte desse sistema, reflita a experiência simbólica derivada do contexto alegórico da linguagem. Essa é a razão da alegoria ter uma força preponderante no seu pensamento filosófico. Para o autor, a teologia é a última expressão desesperada da liberdade humana. Parto do principio de que seu pensamento possui três idéias principais: a linguagem, a revelação e a redenção. O empreendimento hermenêutico de seu trabalho possibilitou conciliar história e narração, revelação e redenção num só ponto: a experiência da linguagem. É aqui que sua investigação da cultura representa um compromisso com a liberdade. Sua leitura do passado reflete a importância da memória e o valor da liberdade para a formação do sujeito. Ele costumava dizer que a linguagem de um ser é o medium em que se comunica sua essência espiritual. Para desenvolver o tema escolhido, o trabalho será dividido em três capítulos. No Capítulo I, intitulado O declínio da experiência e a crítica ao progresso, discute-se a crítica ao progresso feita por Benjamin, o seu estudo sobre a narração, e a possível relação entre o narrador e o justo Tzadik do judaísmo. O ponto central do capítulo é a relação que existe entre o abalo da experiência e a perda da capacidade de narrar na modernidade. O capítulo tem quatro seções: A experiência da linguagem; A narração; Experiência “Erfahrung” e vivência “Erlebinis”; e O justo “Tzadik”. O Capítulo II tem por título O Deus esquecido. Nele a ênfase é dada à aproximação entre Walter Benjamin e Franz Kafka, tomando como base o movimento judaico hassídico. Neste capítulo, dou destaque à leitura feita por Benjamin da obra de Kafka, em particular, a crítica que este faz da perda da capacidade humana de se comunicar na modernidade, assim como a importância da alegoria no pensamento de Kafka, seguido da força de sua “teologia negativa”. O capítulo possui quatro seções: Benjamin leitor de Kafka; Pedagogia e narração; Experiência alegórica; e A teologia negativa. O Capítulo III, A história redimida, discute a relação entre narrador e cronista, história e redenção, assim como entre ética e dever. Nele enfatizo a idéia de Benjamin quanto ao passado como sendo um conjunto de ruínas, que precisam ser restauradas através da redenção messiânica da história. Neste ponto, memória e responsabilidade histórica se encontram através de um espírito revolucionário. O 11

concreto e simbólico. Nesse ponto, faz sentido que enquanto a filosofia faz parte<br />

<strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a, reflita a experiência simbólica <strong>de</strong>rivada do contexto alegórico da<br />

linguag<strong>em</strong>. Essa é a razão da alegoria ter uma força prepon<strong>de</strong>rante no seu<br />

pensamento filosófico. Para o autor, a teologia é a última expressão <strong>de</strong>sesperada da<br />

liberda<strong>de</strong> humana.<br />

Parto do principio <strong>de</strong> que seu pensamento possui três idéias principais: a<br />

linguag<strong>em</strong>, a revelação e a re<strong>de</strong>nção. O <strong>em</strong>preendimento hermenêutico <strong>de</strong> seu<br />

trabalho possibilitou conciliar história e narração, revelação e re<strong>de</strong>nção num só<br />

ponto: a experiência da linguag<strong>em</strong>. É aqui que sua investigação da cultura<br />

representa um compromisso com a liberda<strong>de</strong>. Sua leitura do passado reflete a<br />

importância da m<strong>em</strong>ória e o valor da liberda<strong>de</strong> para a formação do sujeito. Ele<br />

costumava dizer que a linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um ser é o medium <strong>em</strong> que se comunica sua<br />

essência espiritual.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver o t<strong>em</strong>a escolhido, o trabalho será dividido <strong>em</strong> três capítulos.<br />

No Capítulo I, intitulado O <strong>de</strong>clínio da experiência e a crítica ao progresso, discute-se<br />

a crítica ao progresso feita por Benjamin, o seu estudo sobre a narração, e a<br />

possível relação entre o narrador e o justo Tzadik do judaísmo. O ponto central do<br />

capítulo é a relação que existe entre o abalo da experiência e a perda da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> narrar na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. O capítulo t<strong>em</strong> quatro seções: A experiência da<br />

linguag<strong>em</strong>; A narração; Experiência “Erfahrung” e vivência “Erlebinis”; e O justo<br />

“Tzadik”.<br />

O Capítulo II t<strong>em</strong> por título O Deus esquecido. Nele a ênfase é dada à<br />

aproximação entre Walter Benjamin e Franz Kafka, tomando como base o<br />

movimento judaico hassídico. Neste capítulo, dou <strong>de</strong>staque à leitura feita por<br />

Benjamin da obra <strong>de</strong> Kafka, <strong>em</strong> particular, a crítica que este faz da perda da<br />

capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> se comunicar na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, assim como a importância da<br />

alegoria no pensamento <strong>de</strong> Kafka, seguido da força <strong>de</strong> sua “teologia negativa”. O<br />

capítulo possui quatro seções: Benjamin leitor <strong>de</strong> Kafka; Pedagogia e narração;<br />

Experiência alegórica; e A teologia negativa.<br />

O Capítulo III, A história redimida, discute a relação entre narrador e cronista,<br />

história e re<strong>de</strong>nção, assim como entre ética e <strong>de</strong>ver. Nele enfatizo a idéia <strong>de</strong><br />

Benjamin quanto ao passado como sendo um conjunto <strong>de</strong> ruínas, que precisam ser<br />

restauradas através da re<strong>de</strong>nção messiânica da história. Neste ponto, m<strong>em</strong>ória e<br />

responsabilida<strong>de</strong> histórica se encontram através <strong>de</strong> um espírito revolucionário. O<br />

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