walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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09.05.2013 Views

106 Esse novo tempo, certamente não é do século seguinte, o tempo Iluminista do progresso linear: nem circulo nem ponto, mas flecha. Também esse tempo, para Benjamin, é antimessiânico, porque é o tempo continuo do evolucionismo vazio, e não o tempo tenso, imprevisível, em que a qualquer momento pode irromper o Messias; explodindo o continuum da história. É esse último conceito de tempo que o Barroco acaba atingindo, nessa longa viagem “além dos seus limites”: o gesto barroco de extrair, pela violência, um fragmento de intemporalidade do fluxo da história-destino é semelhante ao do historiador dialético, no sentido de Benjamin, que extrai do continuum da história linear um passado oprimido. 138 Esse tempo que possibilita o advento do Messias, onde a história é revista pela memória, é o tempo tenso da expectativa messiânica. Nele, o cronista tem um papel fundamental ao basear sua historiografia no plano da salvação, onde não precisa se prender a explicação verificável, mas toma a exegese como caminho para compreender o fluxo das coisas. Contudo, a história da salvação não é tratada nas Teses, mas sim, um olhar da história a partir de uma figura alegórica: O Anjo da História. Mas quem é ele? É uma alegoria que sintetiza em si toda força presente no messianismo judaico, onde seu caráter restitucionista tem por objetivo resgatar a harmonia de um mundo perdido no paraíso, e a esta restituição começa pela linguagem. A desintegração da língua adâmica pode ser corrigida pelo tempo messiânico. Ao procurar na alegoria não apenas sua essência, mas sua função na história pode dizer que a alegoria é histórica. É histórica porque sua leitura não leva o leitor a fazer uma mera análise dos textos legados pelo passado, numa tentativa de reposição dos seus momentos históricos, mas por propor um diálogo entre o presente e o passado, através do olhar atento de quem a interpreta. A Tese IX é uma descrição do quadro de Paul Klee, chamado Angelus Novus, que Benjamin adquiriu uma reprodução na juventude. Ele considerava esse quadro o seu bem mais importante. Para ele representava uma alegoria em sentido de uma tensão dialética que ele já havia descoberto nas alegorias barrocas. O quadro se aproxima da imagem cabalística que conta que Deus cria a cada instante um número infinito de novos anjos, com o único propósito de cantar por um instante Sua glória diante do trono. 138 Op. cit. p. 44.

O messianismo judaico é o ponto de partida. Nele, o passado e o presente nunca chegam a satisfazer a consciência histórica. Falta algo que só é dado por uma terceira dimensão que se impõe: o futuro. Este completa o sentido do que lhe oferecem o passado e o presente. Nesse pensamento, a consciência histórica “legitima” é encontrada no futuro, onde o papel decisivo de remodelador e aperfeiçoador dos tempos imperfeitos. Rehfeld abre para uma possível compreensão do tempo messiânico muito próximo do pensamento de Benjamin: 107 O futuro, como complemento e aperfeiçoamento do imperfeito, que são o passado e o presente revela-se nas visões messiânicas. O Messias é o símbolo personificador das derradeiras esperanças que um povo nutre quanto à sua história. Com o seu aparecimento, alcança-se tudo o que falta ao presente e aos tempos passados. Ele é o homem no mais amplo e elevado significado do termo; para a consciência histórica judaica, o Messias não pode nem ser superhomem nem homem-deus, sem que seja rompida a base histórica, que é dos homens. 139 O Messias vem cumprir a carência de um determinado tempo histórico, no caso de Benjamin, era o espírito revolucionário das massas. A carência do mundo em cada época depende da opinião dos seus contemporâneos, pois varia com o nível de interpretação que cada geração alcança. No momento em que interpreta a história, Benjamin reconhece as perdas humanas e a atrofia da experiência: 139 Op. cit. p. 31. 140 Op. cit. p. 152-153. Benjamin nos ajuda a restituir à utopia sua força negativa, por meio da ruptura com todo determinismo teleológico e com todo modelo ideal de sociedade que alimenta a ilusão de um fim dos conflitos e, portanto, da história. A concepção de utopia sugerida pelas teses de 1940 tem a vantagem de ser formulada sobretudo na negativa: uma sociedade sem classes e sem dominação – no sentido exato da Herrschaft: um poder heteronômico que impõe suas regras e que escapa a qualquer controle democrático. Essa aspiração revolucionária não se dirige somente ao exercício autoritário de poder pelo estratagema e pela violência das classes, oligarquias ou elites governantes, mas também à dominação impessoal, abstrata e reificada (“fetichista”) do capital, da mercadoria, dos aparelhos burocráticos. 140

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Esse novo t<strong>em</strong>po, certamente não é do século seguinte, o t<strong>em</strong>po<br />

Iluminista do progresso linear: n<strong>em</strong> circulo n<strong>em</strong> ponto, mas flecha.<br />

Também esse t<strong>em</strong>po, para Benjamin, é antimessiânico, porque é o<br />

t<strong>em</strong>po continuo do evolucionismo vazio, e não o t<strong>em</strong>po tenso,<br />

imprevisível, <strong>em</strong> que a qualquer momento po<strong>de</strong> irromper o Messias;<br />

explodindo o continuum da história. É esse último conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po<br />

que o Barroco acaba atingindo, nessa longa viag<strong>em</strong> “além dos seus<br />

limites”: o gesto barroco <strong>de</strong> extrair, pela violência, um fragmento <strong>de</strong><br />

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historiador dialético, no sentido <strong>de</strong> Benjamin, que extrai do continuum<br />

da história linear um passado oprimido. 138<br />

Esse t<strong>em</strong>po que possibilita o advento do Messias, on<strong>de</strong> a história é revista<br />

pela m<strong>em</strong>ória, é o t<strong>em</strong>po tenso da expectativa messiânica. Nele, o cronista t<strong>em</strong> um<br />

papel fundamental ao basear sua historiografia no plano da salvação, on<strong>de</strong> não<br />

precisa se pren<strong>de</strong>r a explicação verificável, mas toma a exegese como caminho para<br />

compreen<strong>de</strong>r o fluxo das coisas. Contudo, a história da salvação não é tratada nas<br />

Teses, mas sim, um olhar da história a partir <strong>de</strong> uma figura alegórica: O Anjo da<br />

História. Mas qu<strong>em</strong> é ele? É uma alegoria que sintetiza <strong>em</strong> si toda força presente no<br />

messianismo judaico, on<strong>de</strong> seu caráter restitucionista t<strong>em</strong> por objetivo resgatar a<br />

harmonia <strong>de</strong> um mundo perdido no paraíso, e a esta restituição começa pela<br />

linguag<strong>em</strong>. A <strong>de</strong>sintegração da língua adâmica po<strong>de</strong> ser corrigida pelo t<strong>em</strong>po<br />

messiânico. Ao procurar na alegoria não apenas sua essência, mas sua função na<br />

história po<strong>de</strong> dizer que a alegoria é histórica. É histórica porque sua leitura não leva<br />

o leitor a fazer uma mera análise dos textos legados pelo passado, numa tentativa<br />

<strong>de</strong> reposição dos seus momentos históricos, mas por propor um diálogo entre o<br />

presente e o passado, através do olhar atento <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> a interpreta.<br />

A Tese IX é uma <strong>de</strong>scrição do quadro <strong>de</strong> Paul Klee, chamado Angelus Novus,<br />

que Benjamin adquiriu uma reprodução na juventu<strong>de</strong>. Ele consi<strong>de</strong>rava esse quadro<br />

o seu b<strong>em</strong> mais importante. Para ele representava uma alegoria <strong>em</strong> sentido <strong>de</strong> uma<br />

tensão dialética que ele já havia <strong>de</strong>scoberto nas alegorias barrocas. O quadro se<br />

aproxima da imag<strong>em</strong> cabalística que conta que Deus cria a cada instante um<br />

número infinito <strong>de</strong> novos anjos, com o único propósito <strong>de</strong> cantar por um instante Sua<br />

glória diante do trono.<br />

138 Op. cit. p. 44.

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