walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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09.05.2013 Views

Rochlitz observa que é um luto decorrente de um mundo que após a perda dos nomes, caiu na confusão das significações abstratas. Para ele, Benjamin é solidário com uma parte da literatura alemã, próxima por seu culto do luto da lamentação hebraica. Ele cita uma correspondência de Benjamin em que diz: 104 Meu ser judeu abriu-me, por privilegio, ‘a ordem perfeitamente autônoma’ da queixa e do luto. Sem me referir a literatura hebraica que, agora sei, constitui o objeto apropriado para essas investigações, em um breve artigo intitulado ‘A significação da linguagem em Trauerspiel e a tragédia’ eu relacionei o Trauerspiel à questão de saber como a linguagem pode, de maneira geral, encherse de luto e como ela pode ser expressão de luto. 135 Essa idéia de luto presente no pensamento de Benjamin se explica pela perda da língua original e pelo exílio do povo judeu. Na melancolia, ele vê uma revolta da própria vida, contra as injustiças da história. Se no drama barroco está presente um olhar melancólico sobre um mundo destituído de religiosidade, somente o advento do Messias poderá restituir a experiência perdida. O que surge então não é a história humana, e sim a historia da natureza que podemos chamar de destino. Rouanet observa que: Sujeita ao destino, a vida humana é efêmera, porque é a vida do homem criado, do homem como criatura, como ser natural. A Idade Média também tinha uma aguda consciência da fragilidade dos seres e das coisas, mas eles se inscreviam na perspectiva da redenção, escapando ao destino. 136 Enquanto a Idade Média mostrava a fragilidade da história e a perecibilidade da criatura como etapas no caminho da redenção, a modernidade mostra o homem enquanto senhor do seu destino e dominador da natureza. Só que o progresso tem um preço, o preço de vidas humanas. Ao recorre à figura do cronista, Benjamin estabelece uma conexão entre a visão barroca da história e a banalização moderna da vida. Se no barroco a morte tem uma finalidade, onde história-destino se encontra, na modernidade ela se torna um mero acidente na continua jornada pelo progresso. A morte enquanto conteúdo geral da alegoria barroca surge como significação comum de todas as alegorias, convergindo assim na alegoria da história. Ele aproxima o ato alegórico do ato crítico por excelência. 135 Op. cit. p. 120. 136 Op. cit. p. 35.

Pierre Missac observou a relação muito próxima entre o Anjo da História e o episódio envolvendo Josué relatado pela bíblia. Os dois episódios representam a complexidade que envolve a experiência do tempo no pensamento benjaminiano e como ele faz uma opção pela idéia de um tempo qualitativo. Sua reflexão sobre o tempo sempre teve um caráter crítico, culminando nas Teses, na qual ele esboça sua concepção qualitativa e descontinua do tempo histórico. 105 Um Herói evocado diversas vezes, direta ou indiretamente, em sua obra: Josué. Nenhuma imagem conseguiria retratar melhor a relação de Benjamin com o tempo tem de complexo e de instável. Na Bíblia, a crônica das vitórias e dos massacres do exercito conduzido por Josué se interrompe brevemente para dar lugar – um instante de sensatez ou de insensatez – ao desejo que Josué formula a Javé e ao sol de que este último se imobilize, detenha seu curso. Com os séculos o esquema proposto por essa anedota certamente se modificou e se enriqueceu. Se o anjo da história (nas “Teses”) deseja interromper seu vôo, é para por um fim às exterminações – e não para levá-las até o fim como no episódio bíblico de Josué – e socorrer as vítimas. Da mesma forma, ao preconizar uma interrupção do curso da história, Benjamin pretende imprimir-lhe uma interpretação nova, mesmo que esse desejo não pareça menos ambicioso e utópico do que o de Josué. 137 Benjamin busca interpretar o tempo como parte de nossas ações, onde os erros ou virtudes deixam na história suas marcas. Podemos concluir desse episódio que os atos humanos são o reflexo do passado e a sombra do futuro. Para ele o tempo é inseparável do seu conteúdo. Sua tentativa de neutralizar o tempo busca libertar o tempo através da dialética. A interrupção messiânica é a ruptura da história, mas não o seu fim, ele contraria a idéia de história-destino presente no barroco. Rouanet escreve que a alegoria se relaciona com a história-destino através da morte, e se relaciona com a utopia absolutista através da significação. Pela significação, o alegorista quer conhecer as coisas criadas, e, através do conhecimento, salvá-las das vicissitudes da história-destino. Se o Barroco está condenado à imanência é por excluir a história messiânica. A história-destino é o tempo circular da natureza, e a história naturalizada é o tempo pontual da estabilidade profana. Ambas excluem a perspectiva messiânica. Rouanet conclui: 137 Op. cit. p. 108.

Rochlitz observa que é um luto <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um mundo que após a perda<br />

dos nomes, caiu na confusão das significações abstratas. Para ele, Benjamin é<br />

solidário com uma parte da literatura al<strong>em</strong>ã, próxima por seu culto do luto da<br />

lamentação hebraica. Ele cita uma correspondência <strong>de</strong> Benjamin <strong>em</strong> que diz:<br />

104<br />

Meu ser ju<strong>de</strong>u abriu-me, por privilegio, ‘a or<strong>de</strong>m perfeitamente<br />

autônoma’ da queixa e do luto. S<strong>em</strong> me referir a literatura hebraica<br />

que, agora sei, constitui o objeto apropriado para essas<br />

investigações, <strong>em</strong> um breve artigo intitulado ‘A significação da<br />

linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Trauerspiel e a tragédia’ eu relacionei o Trauerspiel à<br />

questão <strong>de</strong> saber como a linguag<strong>em</strong> po<strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira geral, encherse<br />

<strong>de</strong> luto e como ela po<strong>de</strong> ser expressão <strong>de</strong> luto. 135<br />

Essa idéia <strong>de</strong> luto presente no pensamento <strong>de</strong> Benjamin se explica pela perda<br />

da língua original e pelo exílio do povo ju<strong>de</strong>u. Na melancolia, ele vê uma revolta da<br />

própria vida, contra as injustiças da história. Se no drama barroco está presente um<br />

olhar melancólico sobre um mundo <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>, somente o advento<br />

do Messias po<strong>de</strong>rá restituir a experiência perdida. O que surge então não é a<br />

história humana, e sim a historia da natureza que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.<br />

Rouanet observa que: Sujeita ao <strong>de</strong>stino, a vida humana é efêmera, porque é a vida<br />

do hom<strong>em</strong> criado, do hom<strong>em</strong> como criatura, como ser natural. A Ida<strong>de</strong> Média<br />

também tinha uma aguda consciência da fragilida<strong>de</strong> dos seres e das coisas, mas<br />

eles se inscreviam na perspectiva da re<strong>de</strong>nção, escapando ao <strong>de</strong>stino. 136<br />

Enquanto a Ida<strong>de</strong> Média mostrava a fragilida<strong>de</strong> da história e a perecibilida<strong>de</strong><br />

da criatura como etapas no caminho da re<strong>de</strong>nção, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> mostra o hom<strong>em</strong><br />

enquanto senhor do seu <strong>de</strong>stino e dominador da natureza. Só que o progresso t<strong>em</strong><br />

um preço, o preço <strong>de</strong> vidas humanas. Ao recorre à figura do cronista, Benjamin<br />

estabelece uma conexão entre a visão barroca da história e a banalização mo<strong>de</strong>rna<br />

da vida. Se no barroco a morte t<strong>em</strong> uma finalida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> história-<strong>de</strong>stino se<br />

encontra, na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ela se torna um mero aci<strong>de</strong>nte na continua jornada pelo<br />

progresso. A morte enquanto conteúdo geral da alegoria barroca surge como<br />

significação comum <strong>de</strong> todas as alegorias, convergindo assim na alegoria da<br />

história. Ele aproxima o ato alegórico do ato crítico por excelência.<br />

135 Op. cit. p. 120.<br />

136 Op. cit. p. 35.

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