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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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3.2 O ANJO DA HISTÓRIA<br />

“Minhas asas estão prontas para o vôo,<br />

Se pu<strong>de</strong>sse, eu retroce<strong>de</strong>ria<br />

Pois eu seria menos feliz<br />

Se permanecesse imerso no t<strong>em</strong>po vivo.”<br />

103<br />

Gershom Schol<strong>em</strong><br />

Há um quadro <strong>de</strong> Klee que se chama Angelus Novus. Representa<br />

um anjo que parece querer afastar-se <strong>de</strong> algo que ele encara<br />

fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas<br />

asas abertas. O anjo da história <strong>de</strong>ve ter esse aspecto. Seu rosto<br />

está dirigido para o passado. On<strong>de</strong> nós v<strong>em</strong>os uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula<br />

incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele<br />

gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos.<br />

Mas uma t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> sopra do paraíso e pren<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> suas asas<br />

com tanta força que ele não po<strong>de</strong> mais fechá-las. Essa t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> o<br />

impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas,<br />

enquanto o amontoado <strong>de</strong> ruínas cresce até o céu. Essa t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong><br />

é o que chamamos progresso. 133<br />

Primeiramente a Tese IX trata <strong>de</strong> uma alegoria. É um texto on<strong>de</strong> Benjamin<br />

aponta para o fim da história. A i<strong>de</strong>ologia do progresso se revela como uma<br />

experiência fracassada, on<strong>de</strong> as ruínas afirmam que comet<strong>em</strong>os graves erros, e que<br />

talvez não possam ser corrigidos. O seu fascínio pela alegoria religiosa já se<br />

apresentava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu estudo sobre o barroco no seu conceito <strong>de</strong> Trauerspiel 134 .<br />

A palavra Trauerspiel – traduzida por Rouanet como drama barroco – é o<br />

fenômeno. É aquilo que po<strong>de</strong>ria s<strong>em</strong> interpretado como o drama que <strong>de</strong>signa a<br />

tristeza <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> privado da transcendência, numa natureza <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong><br />

Graça. O objeto e conteúdo do drama barroco é a história. O Barroco antecipa a<br />

catástrofe, que <strong>de</strong>struirá o hom<strong>em</strong> e o mundo, porém não é uma catástrofe<br />

messiânica que consome a história, mas o <strong>de</strong>stino que o aniquila. No momento <strong>em</strong><br />

que a história é esvaziada <strong>de</strong> sua intenção messiânica, ela se torna uma sucessão<br />

<strong>de</strong> catástrofes, que culmina numa catástrofe final.<br />

133 Op. cit, p. 226.<br />

134 Trauer: tristeza, dor, luto; Spiel: jogo, partida, brinca<strong>de</strong>ira.

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