08.05.2013 Views

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

98<br />

Tais concepções são aproveitadas exemplarmente por Borges<br />

no conto “Las ruinas circulares”, de Ficciones, no qual um mago<br />

indiano cria um homem, o seu filho, através de sonhos e o introduz no<br />

mundo real. De acordo com a história, o jovem só poderia ser<br />

identificado como criatura não pertencente à realidade pela sua<br />

capacidade de não ser molestado pelo fogo. Mas, surpreendentemente, o<br />

seu criador, que enviara o filho para viver rio abaixo e tanto temia que<br />

ele se descobrisse um fantasma, percebeu que igualmente era imune ao<br />

fogo durante um incêndio das ruínas circulares do templo em que<br />

habitava e “Con alivio, con humillación, con terror, comprendió que él<br />

también era una apariencia, que otro estaba soñándolo.” 162<br />

O desenlace desse conto guarda íntima conexão com um ensaio<br />

do autor, “Magias parciales del Quijote”, encontrado em Otras<br />

inquisiciones. Nesse ensaio, voltado à análise das confusões<br />

engendradas por Cervantes entre o mundo de seu leitor e o de seu livro,<br />

Borges afirma que o jogo de estranhas ambiguidades do romance<br />

espanhol culmina na mise en abyme 163 da sua segunda parte, ocasião em<br />

que os protagonistas do Quijote tornam-se leitores da primeira parte do<br />

livro. Diante disso, outras obras que apresentam artifícios semelhantes<br />

ao de Cervantes são lembradas pelo escritor: o Hamlet (c. 1599-1601)<br />

de Shakespeare, o Ramayana (c. séc. V a.C.) de Valmiki e as Noites.<br />

Sobre estas, um comentário mais longo é tecido:<br />

162 Id. Ficciones, OC1, p. 455.<br />

163 Mise en abyme: expressão francesa que significa “cair no abismo” e denomina os processos<br />

de reflexividade e reprodução especular da literatura ou outra arte. Tal duplicação pode ser<br />

total ou parcial, e clara ou simbólica. O conceito foi utilizado pela primeira vez no campo das<br />

artes por André Gide, no início do século XX. RITA, Annabela. Mise en abyme (Mise en<br />

abîme). In: CEIA, Carlos. E-dicionário de termos literários. Disponível em:<br />

. Acessado em: 04 jun.<br />

2010.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!