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89<br />

No enredo policial de “La muerte y la brújula”, os números três<br />

e quatro são as evidências de dois caminhos opostos que podem levar o<br />

detetive Erik Lönnrot a solucionar uma série de assassinatos, que ele<br />

equivocadamente atribui a uma seita de judeus heréticos conhecidos<br />

como Hasidim, ou a ser morto pelo gangster Red Scharlach, seu arqui-<br />

inimigo que tenta atraí-lo para uma armadilha. Mas mesmo dispondo de<br />

livre-arbítrio, Lönnrot sela inadvertidamente o seu destino ao aceitar<br />

como verdade tudo o que remete ao quatro, sinônimo de morte não só<br />

no conto, mas também em algumas culturas, como a chinesa e a<br />

japonesa.<br />

Contudo, no poema de Borges, outro número, que não o três e o<br />

sete, é o arremate da metáfora da trama do tapete: “y encima de las otras<br />

la primera/ y última cifra del Señor: el Uno.” (v. 42-43) 134<br />

Provavelmente, a divindade surge nesses versos como unidade sob a<br />

qual os outros seres e eventos cifrados com que se tecem as Noites estão<br />

subordinados, e da qual eles são a emanação. Tal unidade os integra,<br />

visto que sendo a primeira e última cifra, o Uno carrega em seu íntimo o<br />

três, o sete e todas as numerações possíveis, até o infinito. Borges, dessa<br />

maneira, parece consentir que nada, a não ser um Deus onipresente, é a<br />

força que governa e constitui todas as outras nas Noites. “Não há<br />

poderio nem força senão em Deus altíssimo e poderoso”, 135 exclamam<br />

repetidamente os personagens da obra quando em dificuldades.<br />

Essa questão filosófica da unidade e da multiplicidade também<br />

tem um lugar central na obra de Borges, ao lado da questão do tempo. O<br />

134 BORGES. Historia de la noche, OC3, p. 170.<br />

135 LIVRO das mil e uma noites. v. 1, Ramo sírio, p. 73. Tais palavras são praticamente as<br />

mesmas que encerram a primeira folha dos fragmentos de papiro que indicam a existência do<br />

ramo iraquiano das Noites. Ver 1.2.

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