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ecordação de outras ações, amplia-se indefinidamente pela linguagem<br />

nela empregada, enquanto o conteúdo do livro árabe é paradigmatizado.<br />

1.2.2.1 Primeira metáfora<br />

74<br />

A primeira metáfora-paradigma do poema de Borges é o rio, e<br />

sua exposição estende-se do verso 1 ao 27. Tem-se com ela a lembrança<br />

do rio de Heráclito (c. 540-470 a.C.) como metáfora do tempo<br />

inexorável, o qual se perpetua e em que as coisas ocorrem. O escritor<br />

sempre foi fascinado pelo conhecido aforismo do filósofo de Éfeso:<br />

“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, 98 e em sua obra sobram<br />

exemplos de releituras e reflexões da sentença, como na estrofe inicial<br />

do poema “Arte poética”, de El Hacedor (1960): “Mirar el río de tiempo<br />

y agua/ y recordar que el tiempo es otro río,/ saber que nos perdemos<br />

como el río,”/ y que los rostros pasan como el agua.” 99<br />

A par da usual metáfora do tempo como rio que flui desde um<br />

inconcebível princípio até o presente, Borges também não ignorou a<br />

inversão do curso desse rio teorizada pelo astrônomo inglês James<br />

Bradley (1693-1762), para quem o tempo fluiria do futuro em direção ao<br />

passado, e que o momento em que o futuro se tornaria passado seria o<br />

instante que se denomina presente. “Podemos escolher entre ambas as<br />

metáforas”, diz o escritor, “Podemos situar o manancial do tempo no<br />

98 HERÁCLITO apud RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental [Wisdom of the<br />

West]. Trad. Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, p. 41.<br />

99 BORGES. El Hacedor, OC2, p. 261.

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