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caótico, mas no qual existe ordem subjacente e insuspeitável, regida por<br />

uma inteligência incompreensível às limitações do homem.<br />

Dado o seu caráter de obra anônima e produto de diversas<br />

intervenções de editores e tradutores em seu texto, as Noites estiveram<br />

no centro das reflexões de Borges sobre tradução na década de 1930, o<br />

período que conta com a publicação de seus escritos mais importantes<br />

acerca do assunto. Nesse momento, ele vê na obra, ao lado dos poemas<br />

homéricos, uma confirmação da impossibilidade da existência de textos<br />

e leituras definitivos, bem como da fidelidade tradutória, além de que a<br />

partir dela ele argumenta que modificações e transigências podem<br />

beneficiar o texto de partida, ou mesmo, imbuí-lo do espírito da<br />

literatura para qual o mesmo é traduzido, livrando-o de uma suposta<br />

reescritura desprovida de espírito. Logo, para o autor de Ficciones, o<br />

que ele considera como “boas apocrifidades” são modificações bem-<br />

vindas.<br />

Tais ideias, expressas, entre outros textos, no ensaio “Los<br />

traductores de Las 1001 noches”, valorizarão as versões menos rigorosas<br />

de Antoine Galland e Joseph C. Mardrus, em francês, e de Edward Lane<br />

e Sir Richard Burton, em inglês, e criticarão severamente o trabalho de<br />

tradutores alemães como Gustave Weil e Enno Littman; este, do ponto<br />

de vista tradutório, o mais literal dos analisados.<br />

Entretanto, verificamos que o julgamento qualitativo das<br />

traduções eleitas por Borges não foi constante, e, após a perda de sua<br />

visão, Burton, até então o tradutor mais valorizado, inclusive como<br />

personagem de si mesmo, cede espaço nas preferências do escritor para<br />

Galland, Lane e para uma nova versão, a de seu velho amigo Rafael

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