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Como se vê, a intenção de construir um conto segundo os moldes<br />

narrativos das Noites foi deliberada e confirma o pós-escrito do epílogo<br />

de El Aleph. Na ambientação islâmica de “Los dos reyes” podem ser<br />

encontradas as mesmas inclinações orientalistas, de natureza ideológica<br />

e imagética, que são também características dos textos de “Etcétera”<br />

vinculados ao livro árabe.<br />

Além disso, o fascínio de Borges perante o labirinto representado<br />

pelo deserto também encontra expressão no depoimento a Di Giovanni.<br />

Ao qualificar o labirinto arábico de mais sinistro e desmedido que o<br />

babilônico, o escritor retoma o julgamento omitido no conto pela<br />

substituição de “un laberinto mejor” pela neutralidade de “otro<br />

laberinto”. Tal noção de uma arquitetura labiríntica superior à<br />

convencional talvez possa ser pensada do ponto de vista de que o<br />

labirinto do deserto é obra de Deus, e como tal, acima dos esforços e<br />

resultados humanos. Esse pensamento baseia-se no fato de que se a<br />

construção do rei da Babilônia tinha como objetivo causar perplexidade<br />

e ser motivo para se zombar dos homens simples, a da divindade<br />

reservou-se a algo mais elevado, a aplicação da justiça.<br />

Também é interessante observar no depoimento sobre “Los dos<br />

reyes”, a leitura simbólica tardia que Borges faz de seu próprio texto,<br />

evocando nas oposições do conto o embate entre a civilização e a<br />

barbárie, o qual, já o sabemos, foi explicado por muitos como a força<br />

dialógica definidora da história, sociedade e cultura argentinas.<br />

Olhando em retrospectiva, o projeto de “Los dos reyes y los dos<br />

laberintos” como pseudotradução, embora sucumba ao peso da própria<br />

figura autoral de Borges na década de 1950, foi necessário ao escritor<br />

para que ele desse continuidade à sua experimentação de linguagens e

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