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327<br />

Aparte a detecção de procedimentos, temas e imagens que serão<br />

retrabalhados em outros livros de contos do escritor, nessa tradução<br />

fictícia há um tom orientalizante extremamente acentuado na criação de<br />

situações e personagens, e também na descrição de objetos. É digna de<br />

menção a linguagem e a ideologia utilizada na narrativa, as quais<br />

plasmam não só a linguagem e a ideologia das Mil e uma noites, mas<br />

também as da literatura islâmica como um todo e as das concepções<br />

estereotipadas pelo orientalismo. Estetica e ideologicamente falando, a<br />

redação de “El espejo de tinta” é similar às redações das duas traduções<br />

das Noites em “Etcétera”. No conto, o mundo islâmico parece ser<br />

retratado sob medida como o Ocidente espera que ele se apresente: os<br />

cenários devem ser exóticos e os costumes e as palavras também, não<br />

podendo ainda o enredo dispensar o determinismo teológico.<br />

Isso é plenamente visível, por exemplo, na fórmula imitativa do<br />

discurso religioso que encerra o relato do feiticeiro e o próprio conto, e<br />

que tem como congêneres suas as frases finais da “Historia de los dos<br />

que soñaron” e de “Los dos reyes y los dos laberintos”: “La gloria sea<br />

con Aquel que no muere y tiene en su mano las dos llaves del ilimitado<br />

Perdón y del infinito Castigo.” 643 Assim, como nas traduções das Noites<br />

incorporadas a Historia universal de la infamia, Deus é, em última<br />

instância, o grande e único responsável pela punição do mau e<br />

recompensa ou libertação do justo, estando o homem na posição de<br />

instrumento e expectador de sua força. Tudo em consonância com uma<br />

proposta orientalista de texto, na qual a ação da divindade suprema deve<br />

ser diferente da que se concebe no Ocidente.<br />

643 BORGES. Op. cit., p. 345.

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