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225<br />

Sem dúvida, o emblema maior da figura de Borges é a biblioteca,<br />

a qual pode assumir a memória afetiva daquela que o seu pai lhe<br />

proporcionou na infância ou o sonho desmedido do universo arquitetado<br />

em infinitas prateleiras. Seja sonho ou memória, as referências de leitura<br />

que sustentam a sua palavra colocam o ato de ler como o momento<br />

privilegiado por excelência na literatura.<br />

Complementa ele no prólogo de Historia universal: “A veces<br />

creo que los buenos lectores son cisnes aun más tenebrosos y singulares<br />

que los buenos autores. […] Leer, por lo pronto, es una actividad,<br />

posterior a la de escribir: más resignada, más civil, más intelectual.” 453<br />

Ser um bom leitor implica, assim, ser um bom criador/tradutor de<br />

textos alheios e próprios, contribuindo para a construção de uma<br />

identidade especial de si e do mundo, que é cifrada pelo que se é ou se<br />

vê através daquilo que a biblioteca oferece, de sorte que ao não apenas<br />

se qualificar modestamente como responsável por uma leitura prévia,<br />

seleção e tradução das histórias de “Etcétera”, mas também,<br />

simultaneamente, colocar esse processo acima da escritura, Borges traz<br />

para o âmbito da discussão estética o lugar que a leitura e a tradução<br />

ocupam em sua poética. Além disso, o escritor aponta um rumo<br />

incomum para onde ela se lança, estranho à sua literatura e à da<br />

Argentina, o qual, naquele momento, parece que ainda não pode ser<br />

assumido por completo sem disfarces, como a máscara do traduzir.<br />

Formalmente falando, essa operação tradutória como leitura e<br />

recriação que domina Historia universal do início ao fim também está a<br />

serviço da segurança do escritor que, antes firmado no terreno da poesia<br />

e do localismo, experimenta de uma maneira inusitada um norte possível<br />

453 Id. Historia universal de la infamia, OC1, loc. cit.

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