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dos limites entre aquilo que é vivido e aquilo que é imaginado. Para ela,<br />

a reflexão pesarosa de Borges oferece a chave interpretativa de sua<br />

figura intelectual, a figura de alguém que assumiu o livro como<br />

elemento vital, deu à leitura o status de extensão da experiência e<br />

transformou a biblioteca em seu habitat. Contudo, essa máscara<br />

assumida em primeiro plano também não estará imune a uma carência<br />

do mundo para além das letras.<br />

Muito claramente, na pessoa e na obra de Borges delimitam-se<br />

com relativa facilidade dois ideais de vida e de experiências biográficas<br />

que são o produto de uma dialética constante em seus escritos e em seu<br />

discurso identitário em geral. Em um artigo publicado na revista Punto<br />

de Vista em 1979, “Ideologia y ficción en Borges”, Ricardo Piglia 353<br />

identifica esses ideais a duas linhas de escritura que articulam o autor de<br />

Discusión em relação a seu ofício de escritor e de sujeito imerso em uma<br />

tradição cultural. Segundo Piglia, é possível constatar em Borges uma<br />

série de textos firmados na voz, na história, na memória, no “culto à<br />

coragem”, organizados principalmente na ação do duelo. Em<br />

contrapartida, em sua obra também é desenvolvida uma série que se<br />

apoia na leitura, na tradução, no saber, no “culto aos livros”, e que<br />

encontra no apócrifo uma estrutura fundamental.<br />

Analisando-se a biografia de Borges, não é desproposital ligar<br />

esse “culto à coragem” à herança materna compreendida pela memória<br />

da bravura dos antepassados militares do escritor, e o “culto aos livros”<br />

àquilo que a biblioteca paterna representa. No entanto, se como opção<br />

de vida o segundo caso foi abraçado pelo escritor, que se tornou um<br />

homem de letras, o primeiro ficou relegado nostalgicamente às<br />

353 PIGLIA, Ricardo apud OLMOS. Op. cit., p. 62.

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