08.05.2013 Views

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

PDF(3.4 MB) - PGET - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

160<br />

Não é acontecimento de menor importância o fato de Les Mille et<br />

une nuits terem sido publicadas na França no despontar do século<br />

XVIII, quando os modelos, valores e caminhos do Classicismo estavam<br />

em crise no país. Ainda no final do Seiscentos, Charles Perrault (1628-<br />

1703) atacou a estética clássica, que então encontrava em Racine (1639-<br />

99) e Boileau (1636-1711) os seus grandes representantes,<br />

desencadeando o que se chamou de “Querela dos antigos e modernos”.<br />

Era intenção de Perrault provar que a produção literária de origem<br />

medieval que estava nas raízes do folclore francês, entre contos de fadas<br />

e narrativas maravilhosas, tinha tanto valor quanto os autores greco-<br />

latinos, os quais eram parâmetro inquestionável desde o Renascimento.<br />

Christiane Damien 317 diz que a chegada dos contos maravilhosos<br />

das Noites à França teve a capacidade de trazer à tona novas<br />

experiências sensoriais, materiais e éticas do homem, em boa parte<br />

desconhecidas no contexto a que aportavam, atraindo desse modo os<br />

leitores da época. Consoante a isso, Borges 318 não deixa de notar que<br />

quando Boileau, o grande legislador do Classicismo francês, morreu em<br />

1711, não suspeitava que toda a sua retórica já estava sendo ameaçada<br />

pela esplêndida invasão oriental encabeçada pelas Noites.<br />

O acontecimento capital que a tradução de Galland representa<br />

para as literaturas da Europa é responsável também por parte da<br />

preparação do movimento romântico, quando então o Oriente entrará<br />

definitivamente para a consciência artística do Ocidente. Assim, o<br />

desenvolvimento intenso do orientalismo europeu no século XIX tem<br />

317 DAMIEN, Christiane. Na senda das Noites: “Os quatro talismãs” de Charles Nodier e Les<br />

Mille et une nuits. Cotia/São Paulo: Ateliê/FAPESP, 2010, p. 20.<br />

318 BORGES. Siete noches, OC3, p. 234-235.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!