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158<br />

“Aladdin” e que pode ser aplicado à simulação de pequenas incertezas<br />

mencionada no prólogo de Elogio de la sombra.<br />

O pormenor acrescentado por De Quincey diz que o mago<br />

africano, que chega à China a fim de que Aladim pegue para ele a<br />

lâmpada maravilhosa, localiza o garoto desde sua terra após encostar o<br />

ouvido no solo e distinguir os passos dele dos inumeráveis passos dos<br />

outros homens, diferentemente do que consta na versão de Galland, na<br />

qual o mago é auxiliado pelos astros para encontrar o jovem. Esse<br />

mesmo pormenor também foi aproveitado por Borges no conto “La casa<br />

de Asterión” (1947), de El Aleph, quando o minotauro solitário diz que<br />

se o seu ouvido alcançasse todos os rumores do mundo ele perceberia os<br />

passos de seu redentor. 312<br />

Pensando especificamente na tradução, a concepção de Borges<br />

sobre a memória inventiva nos remete não só ao seu conceito de<br />

infidelidade criadora, mas também a um procedimento tradutório<br />

inverso daquele adotado por Pierre Menard, em que o tradutor não atua<br />

no corpo do texto de partida, e sim em seu contexto de enunciação.<br />

Como atenta Olga Valeska, 313 sem mudar uma única palavra do Quijote,<br />

Menard é capaz de transformá-lo radicalmente, efetivando um<br />

apagamento da memória de leitura do romance espanhol, a sua própria<br />

tradição estabelecida, ao passo que Galland penetra em uma memória<br />

estrangeira a ponto de possibilitar ao seu tradutor tomar a palavra, se<br />

esquecer do original e prosseguir narrando na voz de outro narrador, que<br />

não é um indivíduo, mas uma tradição narrativa.<br />

312 Id. El Aleph, OC1, p. 570.<br />

313 VALESKA, Olga. Confabulações noturnas: tradução e memória inventiva em Jorge Luis<br />

Borges. Revista da Anpoll, São Paulo, n. 23, jul.-dez. 2007, p. 281-282.

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