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148<br />

Mas em “Los traductores”, dentre as novas perspectivas<br />

levantadas, muito mais importante do que a constatação da dinastia<br />

inimiga é a discussão da validade do tradutor em optar por interpolar em<br />

seu texto passagens que não existem na obra original. No ensaio, Borges<br />

denomina as adições que lhe agradam de “buenas apocrifidades”, 282 as<br />

quais, a seu ver, suplementam de forma benéfica o texto de partida.<br />

Em sua concepção, o efeito tem mais validade do que a escala em<br />

que as inserções são operadas. Isso é constatável em seu entusiasmo<br />

pelas histórias de outras tradições orais do levante que Galland<br />

interpolou em sua tradução e que os tradutores que se seguiram a ele não<br />

puderam ignorar. Todavia, em Borges transparece uma vontade<br />

indisfarçável de atribuição das narrativas mais famosas do cânone<br />

gallaniano à inventividade de seu próprio tradutor, configurando-se<br />

como felizes invenções. 283 Na conferência “Las mil y una noches”, 284 o<br />

escritor defende o francês das acusações de falsificador de histórias.<br />

Borges alega que a palavra “falsificar” é injusta e maligna e que Galland<br />

tinha tanto direito de inventar um conto das Noites quanto os antigos<br />

confabulatores nocturni, os contadores de histórias que Annadīm<br />

Alwarrāq menciona em seu Alfihrist como responsáveis pela distração e<br />

vigília de Alexandre Magno.<br />

Esse elogio do apócrifo vai de encontro a alguns procedimentos<br />

da ficção e da tradução de Borges. No que diz respeito mais de perto à<br />

última, os melhores exemplos facilmente verificáveis são as versões de<br />

textos que ele publica em volume na seção “Etcétera” de Historia<br />

282 BORGES. Op. cit., p. 410.<br />

283 Id. Prólogos de la Biblioteca de Babel, p. 120.<br />

284 Id. Siete noches, OC3, p. 236.

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