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139<br />

estabelecida entre original e tradução remete de imediato às suas ideias<br />

centrais sobre o original, desenvolvidas sobretudo em “Las versiones<br />

homéricas”. Para Borges, o problema da transposição de Vathek resulta<br />

mais intrincado do que aparenta por causa da natureza do conteúdo da<br />

obra, dado que, para o argentino, as duas versões preliminares do livro<br />

do excêntrico Beckford talvez devam a sua acolhida desigual entre os<br />

leitores setecentistas em razão das capacidades díspares do francês e do<br />

inglês em comunicar com eficiência o horror peculiar do romance. 265<br />

Vathek é colocado por Borges na posição de precursor do horror<br />

encontrado nos esplendores satânicos de De Quincey, Edgar Allan Poe,<br />

Charles Baudelaire e Joris-Karl Huysmans, autores decisivos nos rumos<br />

da literatura fantástica do século XIX. Como o escritor crê, o epíteto<br />

inglês uncanny [sinistro 266 ], que ele julga intraduzível a outras línguas,<br />

mas que se aproxima da palavra alemã unheimlich, equanto adjetivo<br />

empregado para denotar o horror sobrenatural, é aplicável a algumas<br />

páginas do livro de Beckford e a nenhuma outra obra anterior. 267 Desse<br />

modo, a tradução inglesa de Vathek, e não o seu original francês, estaria<br />

na origem de um terreno literário que, por sua vez, é precursor da<br />

própria literatura borgiana.<br />

De acordo com Waisman, 268 a linhagem do gênero fantástico<br />

estabelecida por Borges é imprevista não unicamente por colocar em seu<br />

princípio uma obra obscura de um autor obscuro, mas ainda por dar ao<br />

texto traduzido um papel criativo essencial como transmissor e<br />

265 Id. Ibid., loc. cit.<br />

266 Outras traduções possíveis nesse contexto são “nefasto”, “estranho”, “misterioso” e<br />

“fantástico”.<br />

267 Id. Ibid., loc. cit.<br />

268 WAISMAN. Op. cit., p. 131.

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