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130<br />

a isso, o escritor explica que nossa leitura dos clássicos é contaminada<br />

por leituras prévias: “Con los libros famosos la primera vez ya es<br />

segunda, puesto que los abordamos sabiéndolos. La precavida frase<br />

común de releer a los clásicos resulta de inocente veracidad.” 240<br />

As palavras de Borges inevitavelmente nos remetem a Italo<br />

Calvino, que em seu ensaio “Perché leggere i classici” dá como primeira<br />

proposta de definição de clássico a seguinte: “Os clássicos são aqueles<br />

livros dos quais, em geral, se ouve dizer: ‘Estou relendo...’ e nunca<br />

‘Estou lendo...’” 241 Em certo sentido, sempre estamos relendo os<br />

clássicos ou livros famosos porque encontramos antecipadamente algo<br />

deles em outros textos e versões. A afirmação é também válida se<br />

pensarmos no legado e aspectos de determinadas obras literárias com os<br />

quais nos deparamos inconscientemente ao longo de nossas vidas,<br />

entranhados que eles estão na cultura. As Noites como parte prévia de<br />

nossa memória, como as concebe Borges, fazem jus a isso.<br />

Mas Borges vai mais longe. Para ele, cada leitura de qualquer<br />

texto sempre proporcionará um novo redimensionamento e<br />

entendimento desse texto. Metaforicamente falando, ele se posiciona<br />

diante dos textos como o banhista do rio de Heráclito, no qual é<br />

impossível entrar duas vezes devido a seu curso estar em constante<br />

mutação. Em suma, a habilidade da leitura implica a interpretação como<br />

ato tradutório e de reescritura, e tempo e contexto são determinantes, ou<br />

melhor, fatais para o fenômeno das variações.<br />

240 Id. Discusión, OC1, p. 239.<br />

241 CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. In:______. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson<br />

Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 9.

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