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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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“um crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado”. Além <strong>de</strong> insurgências consi<strong>de</strong>radas<br />

impertinentes diante do capital, “subprodutos” ameaçadores para<br />

<strong>Joinville</strong>, tais como “<strong>de</strong>scaracterização paisagística [...], <strong>de</strong>struição do<br />

patrimônio ambiental, formação <strong>de</strong> favelas, aumento da criminalida<strong>de</strong><br />

e outras mazelas” 172 , <strong>de</strong>veriam ser contidos.<br />

Uma cida<strong>de</strong> que exigia tal controle por certo era incontrolavelmente<br />

apropriada pelos seus moradores. O tom <strong>de</strong> indignação explicitado pelos<br />

jornais <strong>de</strong>nuncia, a contrapelo 173 , práticas <strong>de</strong>sviantes, criações anônimas,<br />

maneiras <strong>de</strong> fazer in<strong>de</strong>sejadas, mas ao mesmo tempo carregadas por<br />

<strong>uma</strong> inventivida<strong>de</strong> imprevisível por parte daqueles que genericamente<br />

eram categorizados como <strong>migrante</strong>s ou forasteiros 174 .<br />

Com relação às perdas das tradições culturais, o <strong>de</strong>bate<br />

ganhava novas cores. Um executivo da empresa Tupy publicou um<br />

artigo <strong>de</strong>nominado “Tradição e imigração” 175 . Ao reclamar da pouca<br />

autenticida<strong>de</strong> e do enfraquecimento das tradições <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, conclamava<br />

o po<strong>de</strong>r público a reanimá-las, especialmente em prol do “resgate” <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> memória coletiva. A poetisa Mila Ramos, nostalgicamente por meio<br />

do poema “Memória”, também apelava àqueles que podiam <strong>de</strong>cidir os<br />

rumos da “alma” urbana ameaçada:<br />

“Ah! Quem me <strong>de</strong>ra<br />

Resguardar-te inteira<br />

– cida<strong>de</strong> minha –<br />

À sombra da ban<strong>de</strong>ira<br />

Que te serve <strong>de</strong> guia e distinção...<br />

172 SILVA, Norival. O futuro <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 2, 20 jun. 1992.<br />

173 Refiro-me não apenas a <strong>uma</strong> passagem do “Sobre o conceito <strong>de</strong> história” <strong>de</strong> Walter Benjamin,<br />

mas a um conjunto <strong>de</strong> reflexões que arduamente me <strong>de</strong>safiaram e ainda me <strong>de</strong>safiam como<br />

historiadora. Por meio <strong>de</strong> leituras e convívios momentâneos com professores, como Edgar<br />

Salvadori <strong>de</strong> Decca e Maria Auxiliadora Guzzo <strong>de</strong> Decca, que tão bem me ajudaram a<br />

compreen<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> história a contrapelo, registro aqui suas influências. BENJAMIN,<br />

Walter. magia e técnica. Arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. v. 1.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />

174 Baseio-me aqui nas minhas reflexões sobre Michel <strong>de</strong> Certeau. Dizia ele que “o cotidiano<br />

se inventa com mil maneiras <strong>de</strong> caça não autorizada”. Se o imperativo da vigilância e do<br />

controle se impunham é porque “procedimentos populares (também ‘minúsculos’ e cotidianos)<br />

jogam com os mecanismos da disciplina e não se conformam com ela a não ser para alterálos”.<br />

CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a invenção do cotidiano: artes <strong>de</strong> fazer. Tradução <strong>de</strong> Ephraim<br />

Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 40.<br />

175 HOFMANN, Ralph. Tradição e imigração. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 2, 4 out. 1989.

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