Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
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Assim, nos anos 1990, as empresas joinvilenses, <strong>de</strong><br />
internacionalizadas, passaram a se tornar cada vez mais globalizadas,<br />
pois além <strong>de</strong> buscarem novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios, em escala<br />
global também <strong>de</strong>scentralizaram a produção <strong>de</strong> forma a aproveitar a<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologia e <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra barata. Isso, a meu ver,<br />
po<strong>de</strong> ser relacionado com aquilo que o sociólogo Boaventura <strong>de</strong> Sousa<br />
Santos chama <strong>de</strong> “produção global da localização” 163 , a qual consiste<br />
não num jogo <strong>de</strong> ganhos mútuos, mas n<strong>uma</strong> nova expressão do po<strong>de</strong>r<br />
sobre a produção do local ou “produção da localização”. À medida que<br />
as indústrias locais se globalizam, cai o potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> novos<br />
empregos industriais e ondas <strong>de</strong>missionárias tornam-se frequentes.<br />
Rocha nos lembra que os primeiros anos da década <strong>de</strong> 1990 assinalam<br />
“a diminuição da mão-<strong>de</strong>-obra nas indústrias, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>cisão geral <strong>de</strong><br />
automatizar e terceirizar para reduzir custos, substituindo operários por<br />
máquinas e comprando serviços e ou produtos <strong>de</strong> terceiros” 164 . Conforme<br />
as informações obtidas pela autora, “a Tupy, <strong>de</strong> 1990 a 1992, <strong>de</strong>mitiu<br />
em torno <strong>de</strong> 2.000 empregados, reduzindo os custos <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra <strong>de</strong><br />
45% para 35% ”. No mesmo período, a Metalúrgica Wetzel 165 estabeleceu<br />
como meta reduzir <strong>de</strong> 10 a 15% o número <strong>de</strong> empregados. A Consul,<br />
além <strong>de</strong> <strong>de</strong>mitir, terceirizou 600 profissionais. A Embraco – empresa<br />
que publicou o manifesto “À comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>” – “reduziu em<br />
1989/90 1.000 empregados, caindo os custos dos salários sobre as vendas<br />
líquidas <strong>de</strong> 11,75% (1989) para 9% (1990)” 166 .<br />
A produção global da localização nesse caso trouxe contrastes<br />
um tanto <strong>de</strong>sconfortáveis. A “Manchester Catarinense” 167 entre <strong>1980</strong> e<br />
163 “Eis minha <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> modo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> globalização: é o conjunto <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong>siguais<br />
pelo qual um <strong>de</strong>terminado artefacto, condição, entida<strong>de</strong> ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local esten<strong>de</strong> a sua<br />
influência para além das fronteiras nacionais e, ao fazê-lo, <strong>de</strong>senvolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar<br />
como local outro artefacto, condição, entida<strong>de</strong> ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> rival”. SANTOS, Boaventura <strong>de</strong><br />
Sousa. Os processos da globalização. In: ______ (Org.). a globalização e as ciências sociais.<br />
São Paulo: Cortez, 2002. p. 63.<br />
164 ROCHA, Isa <strong>de</strong> Oliveira. Op. cit. p. 90.<br />
165 Empresa fundada em 1932, cuja produção se voltava à fabricação <strong>de</strong> torneiras e registros.<br />
Conforme histórico oficial: “A Wetzel inicia os anos 80 com a abertura <strong>de</strong> seu capital e a<br />
produção <strong>de</strong> itens para o setor automotivo. As exportações recebem um gran<strong>de</strong> impulso com<br />
a aquisição da Foundry Engineers nos EUA e também a incorporação da Metalúrgica Douat<br />
S.A., fortalecendo sua competitivida<strong>de</strong> e aumentando sua participação <strong>de</strong> mercado”. Disponível<br />
em: . Acesso em: 5 <strong>de</strong>z. 2008.<br />
166 ROCHA, Isa <strong>de</strong> Oliveira. Op. cit. p. 90.<br />
167 Conhecida <strong>de</strong>signação dada a <strong>Joinville</strong> a partir da década <strong>de</strong> 1960.