08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

foi gerado por alguns “espertalhões” que, ao invadirem terrenos e serem<br />

beneficiados com o projeto, vendiam seus lotes e invadiam outras áreas.<br />

Ao <strong>de</strong>scobrir a farsa, a Prefeitura <strong>de</strong>rrubou as casas para moralizar o<br />

processo. Esse fato, segundo o entrevistado, causou um grave prejuízo<br />

eleitoral, até mesmo a sua não eleição para <strong>de</strong>putado estadual 158 . Porém<br />

conta-nos que, se por um lado, “para a socieda<strong>de</strong> parecíamos monstros”,<br />

por outro, para as li<strong>de</strong>ranças políticas do projeto foi um momento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição e tomada <strong>de</strong> posição. Afinal, a cida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>sejavam era<br />

“<strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> organizada, planejada para o futuro”. Refletindo sobre<br />

esses acontecimentos, concluiu:<br />

93<br />

Aquele episódio foi duro. Foi ruim para nós naquele<br />

momento, mas hoje, com certeza, foi o que melhor<br />

aconteceu. [...] começou a diminuir a vinda <strong>de</strong><br />

gente pra cá. E também pessoas que queriam fazer<br />

aqui a venda, pra <strong>de</strong>pois invadir outro, também<br />

ficaram com medo. [...] aquilo permitiu, então, a<br />

gente continuar a fazer o trabalho e que finalizou<br />

hoje [2007], praticamente 159 .<br />

Ao longo da narrativa do prefeito, pu<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar que preconceitos<br />

generalizantes imputavam à população migrada as causas (e não apenas as<br />

consequências) das feridas do território urbano. As ações governamentais<br />

que, apenas aparentemente, para o Sr. Tebaldi eram duras se voltavam<br />

à fixação <strong>de</strong> fronteiras como obstrução, como limites intransponíveis<br />

e cicatrizantes do processo <strong>de</strong> urbanização; limites – e não limiares<br />

– <strong>de</strong> contenção dos riscos que ameaçavam “a cida<strong>de</strong> organizada e<br />

planejada para o futuro”. Se os canais fronteiriços do mangue e o<br />

aterro hidráulico tinham como função <strong>de</strong>ter e or<strong>de</strong>nar as ocupações<br />

irregulares, as ações <strong>de</strong>nominadas pedagógicas e policiais ensejavam<br />

emparedar “i<strong>de</strong>ologias” e “más” condutas. Segundo sua narrativa,<br />

a urbanida<strong>de</strong> preconizada e politicamente acordada não abarcava<br />

<strong>de</strong>salinhos e emaranhados, tão didaticamente representados como<br />

punhados <strong>de</strong> feijões que foram jogados ao léu.<br />

A<strong>de</strong>mais, o relato do ex-prefeito e o estudo do geógrafo<br />

Naum Alves Santana <strong>de</strong>monstram que o acelerado estilhaçamento<br />

158 No início da década <strong>de</strong> 1990, foi candidato a <strong>de</strong>putado estadual com o mote: “Homem <strong>de</strong><br />

coragem. Controlou as invasões e urbanizou favelas. Fez muito pela habitação, saneamento<br />

e esporte”.<br />

159 TEBALDI, Marco A. Op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!