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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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crescimento do movimento migratório em direção à cida<strong>de</strong>, a partir<br />

<strong>de</strong> 1986 o po<strong>de</strong>r municipal <strong>de</strong>u início a um projeto que visava intervir<br />

diretamente sobre as ocupações das regiões periféricas, especialmente<br />

às margens dos manguezais. Segundo o entrevistado, <strong>de</strong>u-se início a um<br />

longo processo que perdurou até anos recentes, e estaria aí o “segredo<br />

do sucesso” do projeto: integração e continuida<strong>de</strong> das ações em prol<br />

do controle sobre a urbanização. Num primeiro momento, afirma que<br />

foi preciso combater três “vetores <strong>de</strong> invasão”: “Um era o político.<br />

Teve aqui um <strong>de</strong>putado [...] que ganhou alg<strong>uma</strong>s eleições indicando<br />

lotes, terrenos na área <strong>de</strong> mangue. [...] Pegava <strong>uma</strong> plantinha aqui [na<br />

Prefeitura], projetava a rua e encaminhava às pessoas”. O segundo vetor<br />

era o econômico, constatado inusitadamente: “Nós não entendíamos<br />

por que as casinhas eram todas iguaizinhas. Era tudo igual, era três<br />

por sete. Mas quem era esse arquiteto que planejou as casinhas todas<br />

iguais?”. Por meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> investigação foi constatada a ação <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

rentável re<strong>de</strong>:<br />

[...] fomos ver que a pessoa vinha, [...] arr<strong>uma</strong>va um<br />

emprego e <strong>de</strong>pois já tinha lá um agentezinho que<br />

o levava num material <strong>de</strong> construção. O material<br />

<strong>de</strong> construção vendia parceladamente a ma<strong>de</strong>ira<br />

e já levava [o cliente] no lote. [...] comprava a<br />

ma<strong>de</strong>ira e ganhava o lote, lá no mangue. E aí as<br />

pessoas iam construindo <strong>uma</strong> [casa] do lado da<br />

outra, no mesmo formato 152 .<br />

O terceiro vetor consistia, <strong>de</strong> acordo com o Sr. Tebaldi, num vetor<br />

i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> incentivo às invasões que provinha <strong>de</strong> alguns setores da<br />

Igreja e <strong>de</strong> partidos políticos <strong>de</strong> oposição. Para neutralizar esses vetores,<br />

foi composta <strong>uma</strong> equipe multidisciplinar formada por geógrafos,<br />

assistentes sociais, arquitetos e engenheiros, cuja primeira iniciativa<br />

foi tentar realocar a população para outras regiões mais afastadas, como<br />

por exemplo o bairro Vila Nova 153 . Houve resistência e enfrentamento,<br />

pois os moradores se recusavam a habitar lugares distantes dos seus<br />

locais <strong>de</strong> trabalho.<br />

Ao narrar <strong>de</strong>talhadamente suas lembranças sobre aquela situação,<br />

o entrevistado explicou-nos que o <strong>de</strong>scontrole sobre as “invasões” era<br />

152 TEBALDI, Marco Antonio. Op. cit.<br />

153 Bairro localizado na zona oeste <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.

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