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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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em contextos <strong>de</strong> rápidas mudanças. Deliberadamente, aproprio-me <strong>de</strong>sse<br />

sentido para discutir a diversida<strong>de</strong> cultural joinvilense como elementoalvo<br />

<strong>de</strong> discrepância que produziu sentimentos <strong>de</strong> incertezas, riscos e<br />

repulsas daqueles que buscavam retomar as ré<strong>de</strong>as sobre as mudanças<br />

urbanas a partir da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>.<br />

Embora o Sr. Wilmar <strong>de</strong> Souza procure atribuir à diversida<strong>de</strong><br />

cultural joinvilense <strong>uma</strong> característica benéfica e vantajosa, sabiamente<br />

reconhecida e otimizada em 1997 pelo governo municipal, os sujeitos<br />

<strong>de</strong>ssa diversida<strong>de</strong> foram objeto <strong>de</strong> avaliações e posicionamentos bastante<br />

variados em épocas anteriores e posteriores a 1997. Pelos jornais, é<br />

possível verificar incômodos e <strong>de</strong>sconfortos, tanto por parte das li<strong>de</strong>ranças<br />

políticas quanto empresariais, perante as perturbações causadas pela então<br />

<strong>de</strong>nominada “questão do <strong>migrante</strong>”, sob a qual a Cida<strong>de</strong> das Flores e<br />

das Bicicletas teria se transformado n<strong>uma</strong> “cida<strong>de</strong>-ímã que atrai os<br />

forasteiros” 138 , “cida<strong>de</strong> gorda 139 ”, “pesadona” e “triste”.<br />

Em 1989, no aniversário <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, o jornal A Notícia publicou<br />

várias opiniões acerca do tema que mais importunava o po<strong>de</strong>r público.<br />

Os <strong>migrante</strong>s já seriam 2/3 da população, e aos problemas <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ssa presença urgiam soluções imediatas. Segundo o então<br />

prefeito Luiz Gomes: “Não po<strong>de</strong>mos mais cruzar os braços. Precisamos<br />

administrar esse processo. Meu <strong>de</strong>sejo é, a partir do aniversário da cida<strong>de</strong>,<br />

iniciar um trabalho <strong>de</strong> integração <strong>de</strong>sse novo joinvilense”. Para “o resgate<br />

da cidadania <strong>de</strong>sses <strong>migrante</strong>s” era preciso, ainda segundo o prefeito,<br />

corrigir os erros dos administradores públicos que o prece<strong>de</strong>ram, ou<br />

seja, assumir o controle <strong>de</strong>sse processo. Territórios invadidos e ocupados,<br />

andanças errantes urbanas e comportamentos ilícitos <strong>de</strong>veriam ser<br />

regulados e/ou coibidos, já que agentes i<strong>de</strong>ológicos “membros do PT e<br />

da Igreja”, comerciantes “donos <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> construção” e políticos<br />

eleitoreiros eram os únicos a se beneficiar da “questão do <strong>migrante</strong>” 140 .<br />

Nem um mês <strong>de</strong>pois, o mesmo jornal, no editorial “Enfeiando<br />

<strong>Joinville</strong>” 141 , <strong>de</strong>nunciava a “lastimável <strong>de</strong>cadência” do centro urbano, o<br />

qual havia sido transformado “n<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> gueto da improvisação”<br />

por ambulantes e ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> todos os tipos, constrangendo os habituais<br />

passantes das ruas tradicionais. Era preciso disciplinar e controlar a cida<strong>de</strong>,<br />

138 Termo empregado por Germano Jacobs. JACOBS, Germano. Coisas do espírito e da matéria.<br />

a notícia, <strong>Joinville</strong>, 9 mar. 1990. Especial <strong>Joinville</strong> 139 Anos, p. 1.<br />

139 Id. Ibid.<br />

140 A NOTÍCIA. <strong>Joinville</strong>, 9 mar. 1989. Especial <strong>Joinville</strong> 138 Anos, p. 7.<br />

141 ENFEIANDO <strong>Joinville</strong>. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 2, 2 abr. 1989.<br />

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