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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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<strong>de</strong> sobrevivência ou pela ambição, passou única e exclusivamente a viver<br />

do trabalho e para o trabalho 127 .<br />

O empresariado joinvilense teria imposto à cida<strong>de</strong> não apenas<br />

essa espécie <strong>de</strong> ostracismo cultural, mas também, sob a lógica da<br />

indústria, os rumos da educação e da economia.<br />

83<br />

A Univille 128 foi formada, para a senhora ter <strong>uma</strong><br />

idéia, ninguém pensou em formar <strong>uma</strong> aca<strong>de</strong>mia<br />

para ter intelectuais na cida<strong>de</strong>. Não! Foi para gerar<br />

mão-<strong>de</strong>-obra para a indústria. Tudo o que era<br />

feito em <strong>Joinville</strong>, era pensando na indústria, na<br />

indústria. Teve um empresário em 1970 que disse<br />

que nós <strong>de</strong>víamos ter um porteiro. [...] Que <strong>de</strong>via<br />

ter um porteiro na rua XV <strong>de</strong> Novembro, fazendo<br />

a seguinte pergunta para quem entrasse: “O que<br />

é que você veio fazer aqui? Ah, eu vim fazer<br />

turismo! Então é vagabundo, vai para Camboriú.<br />

Se você veio fazer negócio com a nossa indústria,<br />

po<strong>de</strong> entrar” 129 .<br />

O Sr. Wilmar fez questão <strong>de</strong> ilustrar como “eram as coisas” por<br />

meio das suas recordações sobre outra passagem retida em sua memória: a<br />

visita do então Presi<strong>de</strong>nte da República, general Ernesto Geisel, à cida<strong>de</strong>.<br />

Nessa ocasião especialíssima, o Presi<strong>de</strong>nte anunciou <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> para o<br />

Brasil inteiro o aumento do salário mínimo, a vigorar no 1.º <strong>de</strong> maio.<br />

Na cida<strong>de</strong> do trabalho, o presi<strong>de</strong>nte teria dormido na casa do empresário<br />

Hans Dieter Schmidt 130 , pois hotel era para “vagabundos” 131 .<br />

Esse domínio da falta <strong>de</strong> quase tudo foi quebrado a partir<br />

da década <strong>de</strong> 1990, quando as empresas, tendo <strong>de</strong> reduzir custos,<br />

terceirizaram serviços, notadamente os <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra intensiva. Novas<br />

127 No segundo capítulo situarei tal abordagem sobre a migração buscando inseri-la nas reflexões<br />

teóricas atualmente empreendidas pelas ciências sociais. Procurarei explicar a migração para<br />

<strong>Joinville</strong> como ação h<strong>uma</strong>na inserida n<strong>uma</strong> teia complexa e dinâmica <strong>de</strong> relações sociais<br />

e culturais, as quais implicam a constituição <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> (carregadas por<br />

solidarieda<strong>de</strong>s e conflitos), bem como processo que reflete apropriações, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

táticas e práticas dos sujeitos sociais <strong>migrante</strong>s.<br />

128 A Universida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> (Univille) foi criada pelo po<strong>de</strong>r municipal em<br />

1963.<br />

129 SOUZA, Wilmar <strong>de</strong>. Op.cit.<br />

130 Na época presi<strong>de</strong>nte da Tupy, maior empresa <strong>de</strong> fundição da América Latina.<br />

131 SOUZA, Wilmar <strong>de</strong>. Op. cit.

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