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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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82<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1925 a Socieda<strong>de</strong> Ginástica 124 , <strong>uma</strong> Liga das<br />

Socieda<strong>de</strong>s 125 e tudo. Ela quebrou as Socieda<strong>de</strong>s,<br />

porque fez o empregado ficar nas recreativas.<br />

Quebrou com os restaurantes inteiros. [...] Teve<br />

clube aqui que se <strong>de</strong>teriorou com o tempo,<br />

ninguém mais ia para o clube. Por que que eu ia<br />

pagar <strong>uma</strong> mensalida<strong>de</strong> na Liga das Socieda<strong>de</strong>s,<br />

se eu tenho lá na [...] Consul comida subsidiada,<br />

almoço subsidiado? Aos domingos, o operário ia<br />

com a família para as recreativas, porque também<br />

não precisava ter dinheiro 126 .<br />

A sua narrativa insere a migração como <strong>uma</strong> simples <strong>de</strong>corrência do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento industrial da cida<strong>de</strong>. O “milagre joinvilense”, ao exigir<br />

contingentes <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, recorreu a propagandas (inesquecíveis)<br />

bastante eficientes. Os <strong>migrante</strong>s, por sua vez, concebidos como sujeitos<br />

isentos <strong>de</strong> escolhas, teriam respondido mecanicamente a esses apelos<br />

propagandísticos. Desintegrados dos seus locais <strong>de</strong> origem, teriam sido<br />

reintegrados no novo local mediante os seus vínculos com as empresas<br />

e não como novos moradores da cida<strong>de</strong>, a qual exibia até então um<br />

invejável “<strong>de</strong>senvolvimento sociocultural”. Atendidas as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra, os <strong>migrante</strong>s, consi<strong>de</strong>rados também como seres simples<br />

movidos pelo instinto <strong>de</strong> sobrevivência, continuaram a dirigir-se a<br />

<strong>Joinville</strong>. De <strong>de</strong>corrência passaram a ser problemas, os quais tiveram<br />

<strong>de</strong> ser assumidos integralmente pelo po<strong>de</strong>r público.<br />

Sob a mesma lógica industrial, <strong>uma</strong> segunda leva – agora não<br />

consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s, mas <strong>de</strong> “aliciados” – teria se fixado na cida<strong>de</strong><br />

para ganhar dinheiro nas empresas.<br />

Ora, o nosso entrevistado sugere que, no conjunto, essa população<br />

migrada teria ficado <strong>de</strong>sprovida da cultura, tanto daquela que lhe era<br />

imanente como daquela que lhe acolhia. Persuadida pelas necessida<strong>de</strong>s<br />

124 Socieda<strong>de</strong> criada em <strong>Joinville</strong> em 1858 por i<strong>migrante</strong>s europeus. Baseava-se na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

a prática da ginástica era um po<strong>de</strong>roso instrumento <strong>de</strong> harmonia física e mental do homem.<br />

Foi fechada temporariamente por ocasião da Campanha <strong>de</strong> Nacionalização. COELHO, Ilanil.<br />

É proibido ser alemão: é tempo <strong>de</strong> abrasileirar-se. In: GUEDES, Sandra P. L. <strong>de</strong> Camargo<br />

(Org.). Histórias <strong>de</strong> (i)<strong>migrante</strong>s: o cotidiano <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong>. <strong>Joinville</strong>: Editora Univille,<br />

2000. p. 162-195.<br />

125 Agremiação fundada em 1922. Agregou inicialmente cinco socieda<strong>de</strong>s culturais, promovendo<br />

espetáculos teatrais e festivida<strong>de</strong>s. Ver HERKENHOFF, Elly. era <strong>uma</strong> vez um simples<br />

caminho... Fragmentos da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. <strong>Joinville</strong>: Fundação Cultural, 1987.<br />

126 SOUZA, Wilmar <strong>de</strong>. Op.cit.

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