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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Segundo Chauí, o po<strong>de</strong>r político, ao produzir semióforos (ou ao<br />

disputá-los), o faz a partir <strong>de</strong> seu lugar, hierarquicamente solidificado,<br />

mas ao mesmo tempo dissimulado pelo caráter público e <strong>de</strong> representação<br />

histórica coletiva que impõe a eles.<br />

Dessa perspectiva e conforme as palavras do Sr. Wilmar <strong>de</strong><br />

Souza, na Festa das Tradições as referências materiais po<strong>de</strong>riam ser<br />

tornadas semióforos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o exercício <strong>de</strong> resgate implicasse um<br />

exercício <strong>de</strong> significação simbólica, <strong>de</strong> criação (ou invenção) <strong>de</strong> novos<br />

sentidos sobre a história da cida<strong>de</strong>, sobre os pertencimentos étnicos e<br />

os não étnicos. Uma festa capaz <strong>de</strong> integrar metaforicamente todos os<br />

joinvilenses, tornando-se ela própria um semióforo da urbanida<strong>de</strong>. Por<br />

isso, o evento era divulgado como “o encontro com as culturas” 116 :<br />

culturas conhecidas e não conhecidas. Nesse “palco da alegria”, o<br />

que importava era abolir os estranhamentos e a complexida<strong>de</strong> das<br />

vivências urbanas e, ao mesmo tempo, celebrar harmoniosamente as<br />

essências culturais, representando a cida<strong>de</strong> como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> reino<br />

<strong>de</strong> “<strong>de</strong>mocracia étnica” 117 e cultural.<br />

O <strong>de</strong>sejo festivo <strong>de</strong> integrar os joinvilenses, por outro lado,<br />

insinuava <strong>uma</strong> crítica às formas adotadas pela elite empresarial perante<br />

os fluxos migratórios para a cida<strong>de</strong>. Para o Sr. Wilmar <strong>de</strong> Souza, a<br />

diversida<strong>de</strong> social e cultural <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> foi intensificada a partir dos<br />

anos 1970, com a migração. Disse ele:<br />

116 Conforme o slogan já citado.<br />

79<br />

Nós criamos, na década <strong>de</strong> 70, o milagre joinvilense.<br />

Nós não tínhamos ninguém para trabalhar na nossa<br />

indústria [...]. Então, a gente buscava. Tinha <strong>uma</strong><br />

propaganda da rádio que nunca saiu da minha cabeça,<br />

que eu ouvia, assim: “Ô Dona Maria, on<strong>de</strong> está o Juca?<br />

O Juca agora trabalha na Tupy 118 . Como assim? Não,<br />

117 A expressão <strong>de</strong>mocracia étnica é discutida pelo sociólogo Antônio Sérgio Alfredo Guimarães.<br />

Para ele, a cunhagem da expressão por Gilberto Freyre surge no contexto da sua militância<br />

contra o integralismo no <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1940. Veementemente contrário ao racismo,<br />

atribui à mestiçagem brasileira o antídoto contra os seus perigos, já que favoreceu a integração<br />

e a mobilida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> diferentes raças e culturas. Embora a mestiçagem não<br />

seja o foco das atenções das questões que discuto acima, i<strong>de</strong>ntifiquei, entretanto, o <strong>de</strong>sejo nos<br />

seus resultados. GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Democracia racial. Ca<strong>de</strong>rnos Penesb,<br />

Niterói, n. 4, p. 33-60, 2002.<br />

118 Empresa do setor metal-mecânico fundada em 1938. Em 1958, passou a produzir peças<br />

automotivas e expandiu sua produção e abrangência mercadológica.

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