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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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aqueles que porventura não encontrassem razões para estabelecer<br />

vínculos com as tradições expostas nos estan<strong>de</strong>s étnicos, as coleções<br />

tornavam-se um recurso adicional para o “resgate” (ou a invenção) <strong>de</strong> seu<br />

pertencimento urbano. A citação a seguir contribui para a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong>sse propósito:<br />

77<br />

Então, nós estávamos botando na <strong>de</strong>coração<br />

momentos importantes da cida<strong>de</strong>. Teve<br />

momento em que o tear <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira era a<br />

gran<strong>de</strong> indústria. Momentos que... você ouvia<br />

a música, o baile, era através da vitrola.<br />

Então, mostrando alguns momentos, não é?<br />

Resgatando o mobiliário para as pessoas se<br />

i<strong>de</strong>ntificarem. “Puxa, lá na casa da minha avó<br />

tinha isso e eu sou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> açorianos.<br />

Puxa, lá na casa da minha avó tinha aquilo e<br />

eu não sou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alemão. Puxa, lá na<br />

casa da minha tia, da minha avó”. [...] Todos os<br />

objetos do passado, sem nenh<strong>uma</strong> cronologia,<br />

sem nenh<strong>uma</strong> preocupação: “Ah, esse foi da<br />

década <strong>de</strong> 60, <strong>de</strong> 70, <strong>de</strong> 80, <strong>de</strong> 90”. Eu sei lá!<br />

[...] Nós estávamos resgatando a tradição dos<br />

povos que construíram a pujança da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. E todo mundo contribuiu muito<br />

nisso, os alemães, os italianos, os negros, não<br />

sei quem mais... Todo mundo. E todo mundo<br />

tem um passado importante, então eles se<br />

i<strong>de</strong>ntificaram através daqueles objetos. Essa<br />

era a idéia 111 .<br />

Assim, joinvilenses não apenas hifenizados 112 teriam motivo<br />

para incluir sua “cultura”, que po<strong>de</strong>ria ser espelhada nos antigos<br />

mobiliários, eletrodomésticos, relógios, máquinas <strong>de</strong> escrever ou<br />

calcular, organizados como coleções para preencher vazios visíveis<br />

e invisíveis.<br />

111 SOUZA, Wilmar <strong>de</strong>. Op. cit.<br />

112 Utilizo aqui o termo hifenizado <strong>de</strong> acordo com o historiador Jeffrey Lesser, o qual consi<strong>de</strong>ra<br />

que i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s hifenizadas são construídas como expressões <strong>de</strong> um processo em que sujeitos<br />

negociam sua etnicida<strong>de</strong> perante <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. LESSER, Jeffrey. a negociação<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional: i<strong>migrante</strong>s, minorias e a luta pela etnicida<strong>de</strong> no Brasil. São Paulo:<br />

Unesp, 2001.

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