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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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que permeia o trabalho <strong>de</strong> religamento, entre outros aspectos, do passado<br />

ao presente e das tradições. Embora consi<strong>de</strong>rando que a Festa das Tradições<br />

seja bastante distinta das estudadas pela autora 100 , há, no processo <strong>de</strong> sua<br />

criação, o <strong>de</strong>sejo latente <strong>de</strong> seus realizadores <strong>de</strong> “re-encantamento” do<br />

mundo 101 ante a saturação dos valores mo<strong>de</strong>rnos. Conforme Flores:<br />

73<br />

É exatamente esse re-encantamento do mundo<br />

que permite falar <strong>de</strong> <strong>uma</strong> visão misteriosa das<br />

coisas em ação nesse comunitarismo em apreço.<br />

O mistério é aquilo que se partilha com alguns e<br />

que conseqüentemente serve <strong>de</strong> cimento, reforça<br />

o sentimento <strong>de</strong> pertença e favorece <strong>uma</strong> nova<br />

relação com o ambiente social e cultural 102 .<br />

Ao compartilhar <strong>de</strong>ssa explicação, é possível enten<strong>de</strong>r por que para o<br />

Sr. Larsen a tradição é “coisa sagrada” que <strong>de</strong>ve ser cultuada como via para<br />

reencantar o presente diante do seu mundanismo exacerbado.<br />

Por outro lado, o Sr. Moacir Bogo consi<strong>de</strong>ra que o fortalecimento<br />

da tradição se vincula a outros compromissos que <strong>de</strong>vem ser assumidos,<br />

especialmente pelo po<strong>de</strong>r público. Em sua opinião, a tradição é <strong>uma</strong><br />

manifestação espontânea das pessoas, entretanto, submetida à “ação do<br />

tempo”, po<strong>de</strong> enfraquecer seu po<strong>de</strong>r sobre os comportamentos h<strong>uma</strong>nos. Diz<br />

ele: “Eu sei que o meu filho tem o sentimento <strong>de</strong> italianida<strong>de</strong>, mas eu não sei<br />

se ele vai conseguir conservar. A conservação hoje é um fardo pesado para<br />

ser carregado apenas pelos cidadãos” 103 . Facilitações e verbas governamentais<br />

<strong>de</strong>veriam ser instrumentos <strong>de</strong> apoio para a realização <strong>de</strong> festivida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong><br />

outras iniciativas que se colocassem a serviço do cultivo e do reavivamento<br />

da tradição, a qual <strong>de</strong>ve se tornar um produto a ser exibido e adquirido.<br />

Acreditando que o patrimônio cultural <strong>de</strong> um povo se constitui<br />

mediante a preservação das etnias e das tradições 104 , o Sr. Bogo indica<br />

100 Tal distinção será discutida mais adiante durante a análise da Fenachopp.<br />

101 O reencantamento do mundo é entremeado por essa cultura <strong>de</strong> sentimento. A autora baseia-se<br />

no pensamento <strong>de</strong> Michel Maffesoli na obra A contemplação do mundo. Cf.: MAFFESOLI,<br />

Michel. a contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995.<br />

102 FLORES, Maria Bernar<strong>de</strong>te Ramos. Op. cit. p. 32.<br />

103 BOGO, Moacir. Op. cit.<br />

104 No <strong>de</strong>correr da entrevista, o Sr. Bogo utiliza os termos tradição, cultura e etnia como<br />

equivalentes e similares. Não se trata aqui <strong>de</strong> constatar certa confusão conceitual, mas<br />

apreen<strong>de</strong>r os significados atribuídos pelo nosso entrevistado, permitindo-lhe dar coerência a<br />

suas opiniões.

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