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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Ainda para Gid<strong>de</strong>ns, na socieda<strong>de</strong> contemporânea as tradições<br />

ora são ressurgentes em novas versões, ora são sucumbidas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da sua conexão com a experiência. No entanto a sua espetacularização<br />

revela a ausência <strong>de</strong>ssa conexão. Nesse caso, a tradição revelada como<br />

“resgate” ou referências consumíveis não é tradição.<br />

Tradição que é esvaziada <strong>de</strong> seu conteúdo,<br />

e comercializada, torna-se herança ou kitsch<br />

– as bugigangas que se compram na loja do<br />

aeroporto. Tal como <strong>de</strong>senvolvida pela indústria<br />

da herança, herança é tradição reembalada como<br />

espetáculo 96 .<br />

O passeio pelos estan<strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstrava-me estes dois vieses: “a<br />

tradição reembalada como espetáculo” – comunicada como heranças<br />

<strong>de</strong>scobertas – e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que a vida social urbana fosse embalada<br />

pelo modo tradicional <strong>de</strong> viver a tradição 97 , como caminho para o<br />

estabelecimento dos nexos <strong>de</strong> sua continuida<strong>de</strong>.<br />

A fala das li<strong>de</strong>ranças étnicas envolvidas na festa tornou-se ímpar<br />

para a explicação <strong>de</strong>sses vieses. Expressões como solidarieda<strong>de</strong>, amor,<br />

família e legado às futuras gerações <strong>de</strong>finem a função e o papel da<br />

tradição no conturbado ambiente da urbe.<br />

Conforme as palavras do presi<strong>de</strong>nte da Socieda<strong>de</strong> Rio da Prata 98 ,<br />

Adalberto Larsen 99 : “A tradição <strong>de</strong> um povo é <strong>uma</strong> coisa sagrada, tem<br />

que ser mantida. [...] Isso é feito por amor, para que a juventu<strong>de</strong> do futuro<br />

possa ter um lugar ainda, on<strong>de</strong> possa se abrigar”. Segundo sua avaliação,<br />

a tradição seria necessária para combater os riscos que ameaçam a<br />

perenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valores morais, bem como os inúmeros perigos a que estão<br />

submetidas as novas gerações joinvilenses, como vícios, ociosida<strong>de</strong> e<br />

maus hábitos, promovidos por modismos transitórios.<br />

A historiadora Maria Bernar<strong>de</strong>te Ramos Flores <strong>de</strong>monstrou o<br />

quanto as festas <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> Santa Catarina trazem consigo elementos<br />

que nos permitem verificar a presença <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “cultura <strong>de</strong> sentimento”<br />

96 GIDDENS, Anthony. Op. cit. p. 54.<br />

97 Nesse sentido, mais do que os conteúdos que a tradição estabelece, é reivindicado que as<br />

práticas e os comportamentos sociais sejam norteados pelo po<strong>de</strong>r das tradições.<br />

98 Socieda<strong>de</strong> cultural fundada em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1946, em Pirabeiraba, com o objetivo <strong>de</strong><br />

preservar a cultura germânica em <strong>Joinville</strong>.<br />

99 LARSEN, Adalberto. Depoimento. entrevista concedida a diego Fin<strong>de</strong>r machado e ilanil<br />

Coelho. <strong>Joinville</strong>, 7 out. 2007.

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