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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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atraente, em correspondência com os novos gostos urbanos, conjecturados<br />

pela audiência televisiva e pelo sucesso do restaurante.<br />

Embora a campanha publicitária da festa veiculasse que ali estaria<br />

presente a “força histórica das etnias que construíram <strong>Joinville</strong>” 87 , os<br />

estan<strong>de</strong>s expunham referências esparsas (objetos e imagens) para que os<br />

visitantes “valorizassem outras tradições” do lugar, “tradições esquecidas<br />

num passado”, porém emergentes 88 e disponíveis na forma <strong>de</strong> objetos com<br />

atributos metonímicos, que po<strong>de</strong>riam ser tocados, cheirados e adquiridos.<br />

1.2 OS TERMOS E OS SEUS USOS<br />

Antes <strong>de</strong> abordar a minha experiência na ala gastronômica da Festa<br />

das Tradições, proponho aqui <strong>uma</strong> digressão interpretativa sobre alguns dos<br />

termos utilizados pelos promotores da festa na comunicação visual, escrita e<br />

verbal, bem como os conteúdos que os significaram na realização do evento.<br />

Consi<strong>de</strong>ro tal digressão importante para a trabalhosa amarração analítica<br />

sobre os fatos que inquietam o tema central da pesquisa – migrações e<br />

transformações culturais na cida<strong>de</strong> contemporânea – e que, ao mesmo<br />

tempo, movem o exercício <strong>de</strong>sta escrita.<br />

O discurso historiográfico, como lembra Michel Certeau, impõe<br />

<strong>uma</strong> “servidão” à pesquisa. Enquanto a investigação se move pelas<br />

lacunas e pelas dúvidas, a escrita <strong>de</strong>ve edificar sentidos. Uma e outra,<br />

ainda, pressupõem um lugar social <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se revela o próprio historiador<br />

e contextualiza sua escrita sobre o passado que lhe é ausente 89 .<br />

87 Conforme clipagem cedida pela Promotur.<br />

88 Na edição <strong>de</strong> 2005 o então presi<strong>de</strong>nte da Promotur, Alexandre Brandão, já <strong>de</strong>stacava ao jornal<br />

Gazeta <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> que, embora a Festa priorizasse a colonização germânica, o encontro das<br />

etnias iria reunir <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> outras culturas, como forma <strong>de</strong> questionar a predominância<br />

germânica e apontar para a “miscigenação <strong>de</strong> etnias em <strong>Joinville</strong>”. GAZETA DE JOINVILLE.<br />

<strong>Joinville</strong>, p. A5, 6-10 out. 2005. Acervo Promotur.<br />

89 Para Michel <strong>de</strong> Certeau a operação historiográfica pressupõe um lugar (socioeconômico,<br />

político e cultural) a partir do qual o historiador produz o seu discurso. É também pelo lugar<br />

que se instauram os métodos e os documentos, bem como as questões que são propostas e<br />

dadas a conhecer. Portanto, o lugar é instituidor do próprio historiador, da sua pesquisa e <strong>de</strong><br />

sua escrita (ou narrativa). Segundo suas palavras: “Como o veículo saído <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fábrica, o<br />

estudo histórico está muito mais ligado ao complexo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fabricação específica e coletiva<br />

do que ao estatuto <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> <strong>uma</strong> filosofia pessoal ou à ressurgência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ‘realida<strong>de</strong>’<br />

passada. É o produto <strong>de</strong> um lugar”. CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a escrita da história. Tradução<br />

<strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Menezes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1982. p. 73.

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