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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Sr. Hol<strong>de</strong>regger <strong>de</strong>u pouca atenção ao que eu, como entrevistadora,<br />

consi<strong>de</strong>rava incoerente, ou seja, um cônsul honorário da Suíça ser<br />

conhecido nacionalmente por representar um típico alemão catarinense.<br />

De acordo com suas explicações, o eclipse do “Fritz” teria ocorrido por<br />

duas razões. A primeira, em função <strong>de</strong> disputas políticas na Santur –<br />

Santa Catarina Turismo. Com as sucessivas mudanças <strong>de</strong> administradores,<br />

as verbas para as viagens do “Fritz” teriam sido cortadas e com elas<br />

a importância do seu papel estratégico na divulgação do Estado. Em<br />

segundo lugar, teria havido “pressão <strong>de</strong> Blumenau” para redirecionar o<br />

marketing das festas, buscando festejadores mais “civilizados”, pois a<br />

figura do “Fritz” atraía um público numeroso e heterogêneo. Conforme<br />

sua explicação, “vinha muito paulista que cagava e mijava na rua. Virava<br />

um lodo. Você andava nas ruas <strong>de</strong> Blumenau e fedia muito. Não tinha<br />

banheiro para todo mundo. Os caras quando bebem não querem nem<br />

saber. Cria um problema social terrível” 75 .<br />

As fronteiras <strong>de</strong> sua etnicida<strong>de</strong> suíça 76 não foram interpretadas<br />

pelo entrevistado com base no que simbolicamente representava a sua<br />

incoerência étnica ao incorporar o “Fritz”, mas ao narrar sobre o lugar<br />

dos suíços na história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Segundo o Sr. Hol<strong>de</strong>regger, mesmo<br />

se constituindo como maioria i<strong>migrante</strong> que aportou na cida<strong>de</strong> no século<br />

XIX, “os suíços foram muito rechaçados aqui. Lamentavelmente. Porque<br />

os suíços e alemães vieram, e <strong>de</strong>pois os alemães tinham mais dinheiro.<br />

Os suíços eram pobres, os suíços que vieram eram bem pobres” 77 .<br />

Isso teria motivado o isolamento e a dispersão do grupo, resultando<br />

n<strong>uma</strong> amnésia das suas próprias origens. A pobreza <strong>de</strong>sses pioneiros<br />

suíços fez com que se amedrontassem diante do po<strong>de</strong>r econômico e<br />

intelectual dos alemães, já que “eles tinham mais autonomia <strong>de</strong> fazer<br />

as coisas, e os suíços não tinham. Tipo: cala a boca!” 78 . O estado <strong>de</strong><br />

submissão e obscurantismo histórico apenas foi superado quando a<br />

“lâmpada” 79 Instituto Pró-Memória Suíça foi acesa em 1997. Conforme<br />

relatou:<br />

75 HOLDEREGGER, Alberto. Op. cit.<br />

76 O tema é discutido pelo historiador Diego Fin<strong>de</strong>r Machado em sua dissertação <strong>de</strong> mestrado.<br />

MACHADO, Diego Fin<strong>de</strong>r. redimidos pelo passado? seduções nostálgicas em <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong><br />

contemporânea (<strong>Joinville</strong>, 1997-2008). 2009. 189 p. Dissertação (Mestrado em História)<br />

– Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em História, Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina,<br />

Florianópolis, 2009.<br />

77 HOLDEREGGER, Alberto. Op. cit.<br />

78 Id. Ibid.<br />

79 Metáfora utilizada pelo próprio entrevistado. Id. Ibid.<br />

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